3.11.10

Ortografia: «piaçaba»

Ainda há dicionários


      «Caros leitores. Proponho-vos que adiram ao movimento “Um piassaba para António Costa”. Eu sou o primeiro aderente e já tenho o meu piassaba para entregar nos Paços do Concelho. É o mínimo que posso fazer. Vejam bem: percebo que existe crise, sei que a Câmara tem dificuldades (por isso é que aplica a taxa do subsolo à conta do gás…), e por isso mesmo, antes que me imponham uma taxa nova sobre a sola dos sapatos, comprei um belíssimo piassaba de cerdas amarelas na drogaria» («O piassaba», Manuel Falcão, Metro, 2.11.2010, p. 2). Cinco vezes assim. Há variantes, sim, mas nenhuma com dois ss: piaçá, piaçaba, piaçava. Sempre usei apenas a primeira. E quanto ao género, a maioria dos dicionários consultados regista o feminino. Em abono de Manuel Falcão e da revisora, Catarina Poderoso, devo dizer que há umas décadas era com dois ss que se escrevia.

[Post 4040]

5 comentários:

Anónimo disse...

Há umas décadas também se escreveria, como ainda hoje quem quiser escrever asseado, «Propo-lhes que adiram ao movimento...», ou «Proponho-vos que adirais ao movimento...», e não «Proponho-vos que adiram...», asim como também ninguém escreve «Propo-lhes que adirais...» Confusão e contaminação total de pessoas e modos.
- Montexto

Anónimo disse...

«Se virem que emendar o emendem...» Ao anterior comento, escrito à pressa, não falta que emendar: onde se lê «propo-lhes» e «asim», leia-se pois «proponho-lhes» e «assim», respectivamente.
- Montexto

Anónimo disse...

«Pelo “Jornal do Comércio” do dia 16 de janeiro deste ano da graça de 1915 um advogado, por nome Jerónimo Carvalho, dirige ao Dr. Nilo Peçanha, governador do Estado do Rio, uma carta aberta, na qual se descobre uma inconsequência, que se deve evitar com o maior cuidado, no uso dos pronomes e das formas verbais que lhes correspondem. Erros como este são ocasionados pela ignorância dos rudimentos gramaticais ou pela falta de atenção. Diz na sua carta o advogado: “Não deveis ceder. Estou certo de que não cedereis, Embora não vos conheça intimamente, nem em tempo algum tenha merecido o simples cumprimento da vossa etiqueta social, o meu dever de fluminense manda que vos diga: Não ceda… Resista. Não ceda. Eu vos peço, eu vos suplico…”
Como o tratamento começou no plural, devia seguir com as formas verbais que correspondem aos pronomes “vós, vos, vosso”; mas o autor da epístola descarrilou, dizendo “não ceda e resista” passando em um instante do “Vós” para a terceira pessoa, e desta para aquela. Para falar em português correcto, e estabelecer a harmonia, devia ter dito: “Resisti. Não cedais”, continuando a empregar a 2.ª pess. do pl., que também se usa, por cortesia, falando com uma pessoa só. A mistura de tratamentos que acabo de notar na carta do bacharel Carvalho, dissona atrozmente, e bom seria que muita gente, antes de meter-se a escrever nas folhas públicas, repassasse a conjugação dos verbos e a concordância» (Mário Barreto, «Fatos da Língua Portuguesa», Presença, Rio de Janeiro, Col. Linguagem, 19, 3.ª ed., 1916, cap. X, p. 146-147).
Descarrilamentos destes e doutros que tais, tantos foram entretanto, que praticamente se tornaram norma. Tu chamaste-lhe ignorância dos rudimentos gramaticais e falta de atenção, bom homem; hoje chamam-lhe evolução. Vá-se lá agora agarrar-lhe com um trapo quente!
- Montexto

Anónimo disse...

Ainda sobre o mesmo tema:
Ouvi ontem, 05.11.2010, à noite, na TV SIC Mulher, num programa cujo nome me escapa, mas sobre as relações entre homens e mulheres, Edite Estrela afirmar em amena cavaqueira que «As mulheres não se arranjam para elas próprias».
Lembro-me de ter visto por escaparates de livrarias várias obras desta senhora sobre como se deve e não deve escrever e dizer em português.
Portanto, também aqui, - «kaputt».
- Montexto

Anónimo disse...

Exemplo da tal «evolução»:
Leio só hoje no jornal «i», de 6/7 de Novembro de 2010, p. 8: «"Twittar", "ebook", "ciberbullying", "politólogo", "flexisegurança" são algumas das palavras que integram a nova edição do "Grande Dicionário da Língua Portuguesa" da Porto editora. Este passa ainda a incluir 6 mil novos termos de origem africana, brasileira e asiática. "A língua está em constante evolução e há que actualizar o léxico", justificou a editora, citada pela Lusa.»
Pelo teor da citação também se vê que a editora não tem descurado a sintaxe.
- Montexto