27.11.10

«Racional»?

Digam, sff


      «Descubro agora que no ano lectivo 2007/2008 o Estado subsidiou nesses termos 416 escolas com 21 milhões de euros, correspondentes a 25 995 alunos. Há quem garanta que se poupa assim dinheiro; partamos então do princípio de que agora que decidiu finalmente fazer as contas, o Estado saberá decidir em conformidade. Mas deixemo-nos de tretas: o racional que subjaz à defesa dos contratos com as escolas privadas está muito longe de ser o da poupança» («Aspas em privado, sff», Fernanda Câncio, Diário de Notícias, 26.11.2010, p. 9).
      Nunca antes vira o substantivo racional usado desta maneira, e tenho dúvidas sobre se é português. Já o viram por aí? Pergunto-o desmaliciosamente, atenção. Até pode ser que, depois de algum leitor caridoso me lembrar, atire uma sapatada à testa.

[Post 4133]

6 comentários:

Anónimo disse...

Já um amigo me tinha alertado para mais essa monstruosidade do tempo e da fortuna, que eu nunca vira mais gorda.
Nunca jamais em tempo algum isso foi português nesse contexto. Mas quase apostava dobrado contra singelo que vai passar a ser: é que a boa da senhora e outros periodiqueiros da mesma polpa têm o miolo a fervilhar de tanta ideia nova e fina, com matizes tão difíceis de captar, que o velho léxico já não lhes basta para exprimir tamanha riqueza e subtileza, e vêem-se forçados a dar largas à sua criatividade desbordante, sempre pronta a contribuir para o acrescentamento e evolução da língua.
- Montexto

Anónimo disse...

a utilização do vocábulo "racional" neste contexto é uma mera cópia da sua utilização na língua inglesa, em que significa "fundamento" ou "razão que justifica" ou "o principal argumento para".
Diogenes Laercio

Anónimo disse...

Já vi uma vez, não me recordo onde, mas também na altura fiquei com sérias dúvidas sobre a sua correcção. Não sei porquê, mas cheira-me a brasileirismo.

Francisco Agarez disse...

1º. Confesso que só conhecia o racional adjectivo.
2º. No texto em apreço diz-me um passarinho que é mais uma importação bacoca e parola do uma palavra inglesa: "Rationale", que, se não estou em erro, significa "razão de ser", "justificação lógica", "fundamento". Se a plumitiva podia usar alguma destas palavras ou expressões portuguesas em vez de "racional"? Poder podia, mas não era a mesma coisa...

Anónimo disse...

Dantes, para explicar todo o contrabando linguístico, bastava «chercher le Français». Conste que doravante é forçoso «to search the English». Já o disse e repito: esta gentinha mais ou menos letrada até pode viver e trabalhar ou preguiçar em Portugal, mas é só de corpo presente e do pescoço para baixo: a cabecinha têm-na sempre no último jornal, revista, livro, tradução, filme, cançoneta, programa, CD, DVD ou sabe-se lá o quê, mas sempre em inglês ou traduzido do inglês. O resultado está à vista.
― Montexto

Anónimo disse...

Mais: o desvario chega ao ponto de um tipo da craveira de João Pereira Coutinho, que realmente sabe o que é estilo e sprezzatura, recomendar em Portugal, na televisão portuguesa, a portugueses, a leitura do livro de um prémio Nobel de língua castelhana, mas — em inglês, língua em que o rapaz o anda a ler! Oh manes dos Lopes, Vicentes, Bernardins, Sás de Mirandas, Barros, Pintos, Camões, Ferreiras, Sousas, Vieiras, Bernardes, Lucenas, Melos, Lobos, Castilhos, Camilos e Aquilinos, esta malta sabe quem é, donde, e o que deve a si própria? Kaputt.
― Montexto