26.12.10

«Giga», redução

Aos tropeções, mas avança


      «O autor [António Barreira] guarda a sua história premiada “numa pen de quatro gigas”, e o perfume que usou para a escrever, o Cool Water, de Davidoff, na prateleira. Irrecuperáveis são os chinelos — diz ter um par por cada novela que escreve: “Eram de Verão e usava-os quando escrevia em casa, depois de horário de trabalho. Foram muitos meses...”» («‘Meu Amor’ custou perto de cinco milhões de euros», Carla Bernardino, Diário de Notícias, 25.11.2010, p. 55).
      Quer queiramos quer não, a língua avança. Se para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora giga é apenas uma cesta larga ou um cesto de vime, sem asas, para o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa já é também a redução de «gigabyte». É que não são já apenas os informáticos que falam assim, mas toda a gente.

[Post 4232]

5 comentários:

Anónimo disse...

O que neste caso, além de necessário, é não só natural, mas perfeitamente aceitável. «Ergo, nihil obstat: imprimatur potest.»
- Montexto

Anónimo disse...

«Na verdade a língua não pode ficar estacionária de século para século, e tem de reflectir os acidentes sociais, os progressos do espírito, as mudanças dos hábitos, os cruzamentos étnicos; mas há sempre uma norma que todos precisam de acatar: é o que os antigos chamavam "génio idiomático".
Principlamente, do séc. XIX para cá, esta norma, este "génio", pelo que toca a Portugal, vai-se apagando cada vez mais, e assiste-se, por assim dizer, ao desmoronamento da língua, o que é devido às seguintes causas:
1) Frouxa ou nenhuma leitura dos nossos livros clássicos [...]. A isto acresce a deficiência do ensino escolar [...].
2) Desconhecimento, cada vez maior, do latim. Altera-se a significação dos vocábulos portugueses, erra-se a pronúncia, a ortografia, os géneros, a sintaxe.
3) Influência da literatura francesa [...].
4) Falta de sentimento patriótico. Parece que todos porfiam em se desnacionalizarem!»
«Dixit» o sábio José Leite de Vasconcelos, nas suas «Lições de Filologia Portuguesa», ed. de 1959, p. 229-330.

Acrescentai-lhe agora a do inglês, que rendeu a do francês, ou se lhe sobrepôs.
- Montexto

Venâncio disse...

«Imprimatur potest». Que língua é essa, Montexto?

Eu (ou o latim) diria: Imprimi potest ou simplesmente Imprimatur.

Isto é: «Pode ser impresso» ou «Imprima-se».

R.A. disse...

Para não falar em giga «substantivo feminino: 1 Rubrica: música, dança. dança inglesa do sXVI, em compasso binário; 2 Rubrica: música, dança. dança italiana dos sXVII e XVIII, em compassos com divisão ternária; 3 Rubrica: música. composição instrumental com as características desta dança, que integra e finaliza as suítes» [vide Dicionário Houaiss]

Mas certamente até Leite de Vasconselos adotaria a redução giga para o linguajar dos nossos dias quando falasse em pens.

Já agora: que palavra portuguesa adotaria o tradutor Helder Guégués para "pen"?

Anónimo disse...

É latim-latão, Venâncio, do Palito Métrico. (Que saudades de Coimbra!)
- Montexto