«O Google Earth permite-me ir espreitar a mangueira que ainda dá sombra àquela rua luandense que deixei de morar há 40 anos, e o Street View mostra-me, como só por mim não imaginaria, o que são os 40 centímetros de neve que a minha filha me disse cobrirem a sua cidade — uma e outra, essas invenções do Google têm gente dentro» («O Google Body e o meu voto», Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 20.12.2010, p. 52).
Não quereria Ferreira Fernandes escrever «rua luandense em que deixei de morar»? Claro que não. Apesar de invulgar, esta construção do verbo morar como transitivo pode ler-se, por exemplo, em Herculano: «Doou D. João I, também, as casas que o mestre morava.» Todavia, é uma regência desusada actualmente.
[Post 4206]
4 comentários:
Se se substituir «morar» por «habitar», a frase deixa de nos causar estranheza. Com «morar», actualmente são muitíssimo mais usadas as construções «rua luandense onde deixei de morar», «rua luandense em que deixei de morar» ou «rua luandense na que deixei de morar».
Embora aceitável e rara essa regência, não teria sido uma simples omissão da preposição, como tantas vezes vemos por aí, que apenas - por muita coincidência - saiu direito? Em outras palavras: terá consciência disso o autor da frase?
«In dubio pro reo» - neste caso, jornalista.
- Montexto
Pois é justamente por conta de todos os disparates que lemos diariamente nos jornais que fico com os dois pés atrás quando se trata de jornalistas.
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