«O presidente da República Cavaco Silva vetou, ontem, o diploma que desjudicializa a mudança de sexo e do nome próprio no Registo Civil, alegando “graves insuficiências de natureza técnico-jurídica” naquele texto, aprovado na Assembleia da República com os votos favoráveis da Esquerda e de 12 deputados do PSD» («Cavaco veta mudança de sexo e de nome no Registo», Nuno Miguel Ropio, Jornal de Notícias, 7.01.2011, p. 10).
Talvez nenhum dicionário registe o neologismo desjudicializar. Os mais comuns, como o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, o mais próximo que registam é desjuizar ⇒ desajuizar, tirar o juízo a; endoidar; entontecer. É o que aquela forma de escrever faz aos leitores, tira-lhes o juízo, endoida-os, entontece-os. Talvez o sentido geral não lhes escape, mas os pormenores perdem-se pelos interstícios da gramática rarefeita e do léxico contrafeito.
[Post 4297]
3 comentários:
É só gente capacíssima. Não se quedam por leis. Pairam acima de toda gramática.
Cumpts.
Admito que o termo técnico até possa ser esse, mas a generalidade da comunicação social optou por «simplifica» em vez de «desjudicializa». Uma simplificação pertinente. Esta, a dos jornalistas, porque a outra, a do diploma, é mais uma aberração gerada contranatura por alguns políticos medíocres aos quais o processo de castração usado no CC seria muito bem aplicado. Dissipava-lhes (e decepava-lhes), pelo menos, as dúvidas.
Bom ensejo para lembrar mais uma vez as palavras do senador Rui Barbosa: «A vida parlamentar, a administração e o jornalismo têm sido, em toda a parte, os mais poderosos corruptores da língua e do bom-gosto» («Réplica às defesas de redacção do projecto de Código Civil Brasileiro»).
Para actualizar o diagnóstico, acrescente-se-lhe ultimamente a vida académica.
- Montexto
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