A distinção onde/aonde/donde (deixo adonde de fora) pertence apenas à norma culta da língua e tem poucos anos. E, com tantos amadores, nem todos os revisores, como já aqui vimos mais de uma vez, a fazem respeitar, como seria aconselhável. Aonde quase desapareceu. Quanto a donde, os ignorantes, julgando-o incorrecto, desfazem-lhe sempre a contracção e ficam a preposição e o advérbio em evidência (no Brasil, porém, prefere-se a locução). Até tenho dúvidas de que os professores de Português usem e ensinem afoitamente as três formas do advérbio. Nos clássicos, também não se observava a referida distinção, donde a língua evoluiu. D. Francisco Manuel de Melo, na Carta de Guia de Casados: «Não se vê o bom alfaiate donde há muito pano, nem o bom cocheiro nas ruas largas.» Nesta obra, por exemplo, há 39 ocorrências de «donde», 4 de «onde» e nenhuma de «aonde».
[Post 4298]
4 comentários:
A «Carta de Guia»? Verdadeira jóia da língua, com lugar cativo na minha mesa de cabeceia.
Sobre «adonde» cuido que explica Botelho de Amaral que se usa ou pode usar como equivalente de «para de onde», em casos como este: - «Aonde vais?» - «Adonde tu vens»; ou seja, «vou para de onde tu vens».
Faz sentido, e, à certa confita, assim o emprego e empregarei.
Mas claro que isto há-de parecer nimiamente cerebrino aos estilistas (?) hodiernos, e, convenhamos, até aos antigos.
Com efeito, veja-se a título de curiosidade o que o próprio Morais consignou em 1789: «ADONDE: é erro v. "aonde", sendo "a" prep. junta à palavra relar. "onde" v. g. "o lugar onde estou", i. e no qual estou. § Em "a donde" junta-se "de" a "a" perissologicamente.»
- Montexto
Sim, é Vasco Botelho de Amaral — que cita Morais.
Desta vez falta um «r» a cabeceira. Sempre a cabecear... Prometo que um dia ainda hei-de enviar um comento sem lapsos.
- Mont.
Adonde é do século XIV, mas ainda se usa muito no interior brasileiro, pelos incultos e menos cultos.
Enviar um comentário