Blogue sobre a língua portuguesa, com ocasionais reflexões e incursões noutras áreas, porque afinal a língua cobre toda a realidade. Com marcado sentido pedagógico, sem abdicar do necessário humor.
10.1.11
Pronúncia: «tóxico»
Cs... cs... cs... cs...
Manuel Alegre, sempre poeta e durante mais de três décadas deputado, está a ser entrevistado na Antena 1 por Maria Flor Pedroso e acaba de usar a palavra «tóxico» — pronunciando «tóchico». Vai perder mais alguns votos...
Os falantes não têm sempre razão? Principalmente os do eixo Lisboa-Coimbra?
Também pronunciou alibi de forma aguda, há seis meses, no lançamento da candidatura nos Açores, e pensei que pudesse ser uma gralha poética (ficava bonito, até, na sua Voz).
Se vamos por aí, que dizer de um recandidato que ainda ontem criticou o governo por ter desperdiçado os fundos que a UE "colocou à disposição" da agricultura e que houve governantes que "lhe dirigiram (aos agricultores)palavras de falta de respeito"?
Vai-se ou deve ir-se por onde se pode e deve, se bem que na fala lapsos, e até erros, sejam mais toleráveis: no calor da discussão ocorrem mais facilmente, como decerto acontecerá a todos nós. - Montexto
Não se admire tanto, C. Kupo. Uma coisa é a escrita, outra a fala: não é raro que para um escritor só conte verdadeiramente a palavra impressa. Lembro-me, por exemplo, de ter lido numa biografia de Dostoievski que este não era lá muito primoroso a falar (nem até, mas isto já são outros quinhentos, na escrita no sentido da propriedade dos termos...). - Montexto
Pode um poeta falar mal e escrever bem? Xim! Pode um poeta falar bem e nem saber escrever? Há! Pode um poeta não ser poeta quando não está a dizer ou a fazer poesia? Sei lá! Pode um blogue sobre a língua portuguesa deixar de falar nisto? Não! Consigo deixar de pronunciar "tóchico" quando falo? Vou tentar!
E também há quem fale muito bem e escreva muito mal, principalmente quando se trata de uma língua diferente da materna. (A propósito, esta designação de língua materna, literalmente, até nem faz muito sentido; veja-se o caso dos filhos de emigrantes nascidos no estrangeiro.)
Será 'boquiabrir' um brasileirismo? (embora assim o registre o Houaiss, com datação de 1913, do dicionário de Figueredo, 2ª edição). O Aurélio abona-o com boa literatura portuguesa: "boquiabrir[De boqu(i)- + abrir.] Verbo transitivo direto. 1. Causar grande admiração, pasmo, a: “récuas e récuas de palavras antigas, postas de propósito para boquiabrir .... o pobre-diabo.” (Fialho d’Almeida, Os Gatos, VI, p. 118).Verbo pronominal. 2.Ficar pasmado, boquiaberto. [Part. irreg.: boquiaberto.]" O escritor do Alentejo viveu entre 1857 e 1911. A obra "Os Gatos" foi escrita de 1889 a 1894.
Estou com o Sr. Paulo Araújo. Também não me parece que seja preciso considerar «boquiabrir» só reguionalismo brasileiro. Eu pelo menos tinha-o e tenho-o por lusitano, e nessa persuasão o empreguei. - Mont.
16 comentários:
Os falantes não têm sempre razão? Principalmente os do eixo Lisboa-Coimbra?
Também pronunciou alibi de forma aguda, há seis meses, no lançamento da candidatura nos Açores, e pensei que pudesse ser uma gralha poética (ficava bonito, até, na sua Voz).
Acho que só em relação aos clientes é que a hipocrisia manda dizer isso.
Mas poucos...
- Montexto
Se vamos por aí, que dizer de um recandidato que ainda ontem criticou o governo por ter desperdiçado os fundos que a UE "colocou à disposição" da agricultura e que houve governantes que "lhe dirigiram (aos agricultores)palavras de falta de respeito"?
Como é possível ser-se poeta e falar tão mal?
Vai-se ou deve ir-se por onde se pode e deve, se bem que na fala lapsos, e até erros, sejam mais toleráveis: no calor da discussão ocorrem mais facilmente, como decerto acontecerá a todos nós.
- Montexto
Não se admire tanto, C. Kupo. Uma coisa é a escrita, outra a fala: não é raro que para um escritor só conte verdadeiramente a palavra impressa.
Lembro-me, por exemplo, de ter lido numa biografia de Dostoievski que este não era lá muito primoroso a falar (nem até, mas isto já são outros quinhentos, na escrita no sentido da propriedade dos termos...).
- Montexto
Pode um poeta falar mal e escrever bem? Xim!
Pode um poeta falar bem e nem saber escrever? Há!
Pode um poeta não ser poeta quando não está a dizer ou a fazer poesia? Sei lá!
Pode um blogue sobre a língua portuguesa deixar de falar nisto? Não!
Consigo deixar de pronunciar "tóchico" quando falo? Vou tentar!
Não, decididamente não consigo deixar de me espantar e boquiabrir!
- Mont.
E também há quem fale muito bem e escreva muito mal, principalmente quando se trata de uma língua diferente da materna. (A propósito, esta designação de língua materna, literalmente, até nem faz muito sentido; veja-se o caso dos filhos de emigrantes nascidos no estrangeiro.)
"Boquiabrir" - regionalismo brasileiro.
Afinal Montexto, q.e.d., não é o revisor anti-brasileiro!
Heureca!
Mas não era elementar, meu caro Watson? Se até já tinha a palavra de Helder Guégués...
- Mont.
Anterior anónimo: deveria ter escrito «Afinal Montexto não é o revisor antibrasileiro! Q.E.D.»
Será 'boquiabrir' um brasileirismo? (embora assim o registre o Houaiss, com datação de 1913, do dicionário de Figueredo, 2ª edição). O Aurélio abona-o com boa literatura portuguesa: "boquiabrir[De boqu(i)- + abrir.] Verbo transitivo direto. 1. Causar grande admiração, pasmo, a: “récuas e récuas de palavras antigas, postas de propósito para boquiabrir .... o pobre-diabo.” (Fialho d’Almeida, Os Gatos, VI, p. 118).Verbo pronominal. 2.Ficar pasmado, boquiaberto. [Part. irreg.: boquiaberto.]"
O escritor do Alentejo viveu entre 1857 e 1911. A obra "Os Gatos" foi escrita de 1889 a 1894.
Estou com o Sr. Paulo Araújo. Também não me parece que seja preciso considerar «boquiabrir» só reguionalismo brasileiro. Eu pelo menos tinha-o e tenho-o por lusitano, e nessa persuasão o empreguei.
- Mont.
Regionalismo.
- Mont.
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