Já aqui tínhamos visto os bombeiros a confirmarem o óbito de duas vítimas de um acidente. Hoje, temos algo semelhante: «Segundo a acusação, o pessoal de emergência médica pronunciou Carlos Castro como morto às 19.18 e, de acordo com o director do serviço de saúde da cidade, as causas da morte do jornalista foram lesões no pescoço e na cabeça, que resultaram em homicídio, apresentando ainda lesões graves na cara e na parte genital feitas por um saca-rolhas» («Renato Seabra entrou algemado e clamou inocência», Ricardo Durães, Diário de Notícias, 2.02.2011, p. 50). Já temos sorte não ter sido uma empregada de limpeza mexicana a «pronunciar» o óbito. E reparem como as lesões no pescoço e na cabeça resultaram não apenas na morte do «malogrado cronista», como também se lê no Diário de Notícias, mas no homicídio. Não é feito para qualquer homicida.
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3 comentários:
E «as causas da morte do jornalista foram lesões no pescoço, que resultaram em homicídio, apresentando ainda lesões graves na cara»... «apresentando»? Que gerúndio é este? O sujeito das orações anteriores é, de uma, «o pessoal de emergência médica»; de outra, «as causas da morte do jornalista»; de outra, «que» por «lesões no pescoço e na cabeça». Portanto, a quem ou a que se refere o gerúndio de «apresentando ainda lesões graves na cara»? «...lesões no pescoço e na cabeça, que resultaram ainda em homicídio, apresentando ainda lesões graves na cara»: «apresentando»... quem? Quem apresenta «ainda lesões graves na cara»? As causas de morte? As lesões no pescoço e na cabeça representadas no «que»? O homicídio? Ah, refere-se ao assassinado, que ficou lá para trás! Muito bem! Então o gerúndio pode empregar-se e colocar-se em qualquer lado? Fico inteirado. Muito se aprende com a novíssima vaga!
Sobre «resultar em» guarde-se um silêncio prudente.
- Montexto
O Montexto é - concluo, against all odds - bastante jovem. Estes giros frásicos e semânticos (realmente pacóvios) existem no nosso jornalismo desde há uns bons decénios. Quem dera fossem de uma «novíssima vaga»... Ainda haveria esperança.
Conclui bem e tem razão.
Mas jornalista, ou quem quer que assim escreva, é que não a tem.
Claro que nas folhas diárias se escreverá as mais das vezes à pressa, mas em livros, em princípio obra mais ponderada, é que não há desculpa.
- Mont.
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