Ainda na Madeira
«“Entrar neste mar é um suicídio. É traiçoeiro. Não há qualquer hipótese de encontrar com vida as duas raparigas que foram arrastadas na segunda-feira, este é um mar ‘banzeiro’, parece que ao longe está calmo mas, de repente, rebentam as ondas enormes junto à costa”, diz ao DN, [sic] Paulo Fernando, que viu o desastre dos socorristas e ajudou a trazer para terra o que acabou por falecer» («Morre no mesmo mar onde procurava jovens», Lília Bernardes, Diário de Notícias, 16.02.2011, p. 15).
Cara Lília Bernardes, qual a utilidade das aspas em «banzeiro»? Banzeiro, na definição do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora é «(mar) pouco agitado». Para o Dicionário Houaiss, «forte, agitado vagarosamente (diz-se de mar), com tempo bom e ondas que não encapelam».
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4 comentários:
«BANZEIRO, adj. Diz-se do mar quando banzeia: navegavam com mar banzeiro; “sobre as águas banzeira que acusavam a aproximação da preamar”, Franklin Távora, “O Matuto”, cap. 28, p. 356. * Bras. da Amazónia. Diz-se da agitação das águas dos rios que se embatem nas margens quando passa a pororoca ou macaréu. Emprega-se substantivamente. Em outras regiões do Norte designa onda alta e impetuosa e é o mesmo que “cavaleiro” e “marola”. (cf. Octávio Brandão, “Canais e Lagoa”, p. 85). * Bras. Vento forte, na região do Araguaia. * Fig. Monótono, uniforme. Pensativo e triste sem motivo: “E a vida banzeira, apenas alegrada pelo som da voz de Felicinha, derivava”, Coelho Neto, “Sertão”, p. 183. * Bras. Um tanto embriagado; cambaleante. * S. m. Prov. minh. Cada um dos lados da escada de mão, o mesmo que “banzo” e “banzão”. * Bras. Tumulto, o mesmo que “banzé”. Bras. “Aguentar o banzeiro”, suportar, arcar com alguma coisa, aguentar o repuxo, aguentar o cangirão. (Origem incerta).
NÁUT. Diz-se do mar que não está em calma nem em tormenta; agitado sem característica especial como o de carepa, de vaga, etc.»
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«… quando banzeia»: já agora, precisamos de saber de «BANZEAR, v. i. Apresentar o mar um movimento ondulatório, com vagas extensas e altas, mas que não rebentam: “a nau… com o banzear do mar abriu de velha», Castanheda, “História da Índia”, II, cap. I, p. 5. * Oscilar (a embarcação) «a não [sic, por nau?] banzou tanto enquanto o peixe este aferrado que pareceu a todos estavam sobre algum rochedo”, D. de Góis, “Crón. de D. Man., parte IV, c. 31. (v. “Banzar” e “Banzeiro”). * V. t. Ant. Dar, na luta a cavalo, o movimento que indica o autor do “Leal Conselheiro, e Arte de Cavalgar”, cap. XVI, nos seguintes ex. (p. 636). «o filhar das arcas se faz por duas guysas… outra entrar arca por arca e banzea-te e meter o outro braço na outra arca non bixando a que lá tem. Item as trazeiras se filham por três maneirashua filhando a maão, e banzeallo, e saltar a trás”; “Em justa custumam em esta terra lançar a vara aa maão esquerda, e aa maão direita; e se for aa maão esquerda deverse dar ajuda e balanço do banzear do corpo para aquella parte”, ibid., p. 595.»
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Foi só para exemplificar o que considero um dicionário honrado: a «Enciclopédia Portuguesa e Brasileira», onde mais bem tombada - e levantada - está a língua portuguesa.
- Montexto
«enquanto o peixe esteve aferrado» e «por três maneiras hua filhando» e «saltar a tras»: leia-se, s.f.f.
- Mont.
Quantos volumes tem essa enciclopédia? Dava-me gosto ter obra assim na estante...
Muitos. Pena é não editarem a parte da língua em separado. Mas os outros artigos, mormente os referentes à cultura portuguesa, também valem quanto... ocupam.
- Mont.
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