Próximo!
Paula Brito e Costa, da associação Raríssimas, no noticiário das 9 da manhã da Antena 1: «E depois não vão querer que a Paula Costa diga que os doentes estão a morrer. Estão a morrer! E, neste momento, dois doentes do São João estão muito prestes a morrer porque não têm acesso ao medicamento órfão.»
Os jornalistas, tanto quanto ouvi, não explicaram o conceito, novo para mim, de «medicamento órfão». (Não são apenas alguns gestores hospitalares, como disse António Arnaut, que deveriam estar em fábricas de sabonetes...) Cheirou-me logo a bifecamone, como diria Montexto, mascarado de português. E é: vem de orphan drugs. São produtos médicos destinados à prevenção, diagnóstico ou tratamento de doenças raras muito graves ou que constituem um risco para a vida.
[Post 4487]
11 comentários:
O que me feriu ligeiramente o ouvido foi o «muito prestes». Só «prestes» não chegava?
RS
Mas está correcto.
O conceito de "medicamentos órfãos", creio eu, também inclui o facto de, por serem tão raras as doenças a que se destinam, precisarem de ser tratadas com muito "carinho". Se o Estado não paga os seus elevadíssimos preços, os fabricantes dizem que não compensa mantê-los no mercado. Os apelos a que o erário público não deixe de proteger as vítimas de doenças raras deviam correr em paralelo com os apelos a que a indústria e o comércio também reduzissem as margens de lucro a que estão habituados.
"Todos por um" é lema honroso e todos aceitarão de bom grado que parte das contribuições que pagamos seja destinada a pessoas que precisam (sejam ricas ou pobres). O problema é que há quem eleve demais o valor desses produtos "órfãos".
Medicamentos órfãos. ora aqui está uma boa. Dantes o remédio seria "roda dos enjeitados com eles", mas agora o Estado Social pode institucionalizá-los como se faz a qualquer órfão menor que haja por aí. Adoptá-los é que já é mais difícil. Adopta-se o bifecamone que já não é Mao.
Cumpts.
Com efeito, perante qualquer avaria da linguagem, dantes a causa procurava-se no francês; agora, no inglês. Como disse e repetiria o príncipe de Salinas, é preciso que algo mude para que tudo fique na mesma.
— Montexto
Resultará do também anglicismo DOENÇA ÓRFÃ (a que não foi ainda «adoptada» pela indústria farmacêutica para grande desenvolvimentos terapêuticos devido ao pequeno mercado (porque poucos doentes).
VER:
http://www.medterms.com/script/main/art.asp?articlekey=11418
Quem tem aversão ao termo emprestado ao estrangeiro sempre pode sugerir outro melhor.
Talvez não fosse descabido de todo que, entre tanta universidade, instituto, organismo, associação, sociedade, academia e o diabo a quatro, houvesse uma entidade encarregada da tarefa sugerida pelo anterior anónimo...
— Montexto
Uma entidade reguladora da lusofonia (esse novo idioma), com presidência rotativa e carroussel de vogais de administração, e que responda ao Observatório da Língua Portuguesa que já existe e eu a ver.
Cumpts.
Se me permite, prezado Helder, tome lá esta:
“Poderemos até escrever da mesma forma, mas haverão sempre diferenças...” - e não li mais.
(Académico Pedro Martins da Universidade de Siena, in Diário Digital, 24/II/2011.)
Com académicos destes é que a lusofonia chegou ou há-de chegar, não já a uma encruzilhada, como se crismou a tal «conferência internacional», mas a um beco sem saída.
Lembre-se mais uma vez o dito de Rui Barbosa sobre a academia, entre outras instâncias, como corruptora da língua e do bom gosto.
— Montexto
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