24.2.11

«Medicamento órfão»

Próximo!

      Paula Brito e Costa, da associação Raríssimas, no noticiário das 9 da manhã da Antena 1: «E depois não vão querer que a Paula Costa diga que os doentes estão a morrer. Estão a morrer! E, neste momento, dois doentes do São João estão muito prestes a morrer porque não têm acesso ao medicamento órfão.»
      Os jornalistas, tanto quanto ouvi, não explicaram o conceito, novo para mim, de «medicamento órfão». (Não são apenas alguns gestores hospitalares, como disse António Arnaut, que deveriam estar em fábricas de sabonetes...) Cheirou-me logo a bifecamone, como diria Montexto, mascarado de português. E é: vem de orphan drugs. São produtos médicos destinados à prevenção, diagnóstico ou tratamento de doenças raras muito graves ou que constituem um risco para a vida.

[Post 4487]

11 comentários:

Anónimo disse...

O que me feriu ligeiramente o ouvido foi o «muito prestes». Só «prestes» não chegava?
RS

Helder Guégués disse...

Mas está correcto.

R.A. disse...

O conceito de "medicamentos órfãos", creio eu, também inclui o facto de, por serem tão raras as doenças a que se destinam, precisarem de ser tratadas com muito "carinho". Se o Estado não paga os seus elevadíssimos preços, os fabricantes dizem que não compensa mantê-los no mercado. Os apelos a que o erário público não deixe de proteger as vítimas de doenças raras deviam correr em paralelo com os apelos a que a indústria e o comércio também reduzissem as margens de lucro a que estão habituados.
"Todos por um" é lema honroso e todos aceitarão de bom grado que parte das contribuições que pagamos seja destinada a pessoas que precisam (sejam ricas ou pobres). O problema é que há quem eleve demais o valor desses produtos "órfãos".

Bic Laranja disse...

Medicamentos órfãos. ora aqui está uma boa. Dantes o remédio seria "roda dos enjeitados com eles", mas agora o Estado Social pode institucionalizá-los como se faz a qualquer órfão menor que haja por aí. Adoptá-los é que já é mais difícil. Adopta-se o bifecamone que já não é Mao.
Cumpts.

Anónimo disse...

Com efeito, perante qualquer avaria da linguagem, dantes a causa procurava-se no francês; agora, no inglês. Como disse e repetiria o príncipe de Salinas, é preciso que algo mude para que tudo fique na mesma.
— Montexto

Francoe Silva disse...

Resultará do também anglicismo DOENÇA ÓRFÃ (a que não foi ainda «adoptada» pela indústria farmacêutica para grande desenvolvimentos terapêuticos devido ao pequeno mercado (porque poucos doentes).
VER:
http://www.medterms.com/script/main/art.asp?articlekey=11418

Anónimo disse...

Quem tem aversão ao termo emprestado ao estrangeiro sempre pode sugerir outro melhor.

Anónimo disse...

Talvez não fosse descabido de todo que, entre tanta universidade, instituto, organismo, associação, sociedade, academia e o diabo a quatro, houvesse uma entidade encarregada da tarefa sugerida pelo anterior anónimo...
— Montexto

Bic Laranja disse...

Uma entidade reguladora da lusofonia (esse novo idioma), com presidência rotativa e carroussel de vogais de administração, e que responda ao Observatório da Língua Portuguesa que já existe e eu a ver.
Cumpts.

Bic Laranja disse...

Se me permite, prezado Helder, tome lá esta:
“Poderemos até escrever da mesma forma, mas haverão sempre diferenças...” - e não li mais.
(Académico Pedro Martins da Universidade de Siena, in Diário Digital, 24/II/2011.)

Anónimo disse...

Com académicos destes é que a lusofonia chegou ou há-de chegar, não já a uma encruzilhada, como se crismou a tal «conferência internacional», mas a um beco sem saída.
Lembre-se mais uma vez o dito de Rui Barbosa sobre a academia, entre outras instâncias, como corruptora da língua e do bom gosto.
— Montexto