«A frustração de estar rodeado de crianças que não tinham os mesmos interesses, a ouvir matérias que já conhecia, aborrecia-o e levava-o a destabilizar a aula, por estar aborrecido de ali estar» («Há mais de 60 mil crianças e jovens sobredotados em Portugal», Raquel Tereso, Diário de Notícias, 6.02.2011, p. 18).
Em rigor, não precisamos de destabilizar nem de desestabilizar, e quem use conscienciosamente a língua decerto que o sabe.
[Post 4406]
16 comentários:
"[...]aborrecia-o e levava-o a destabilizar a aula, por estar aborrecido de ali estar."
Só eu achei extremamente repetitivo esse passo?
Não, caro Kupo; está acompanhado.
Resta-nos esperar que o aluno seja realmente sobredotado, ou em todo caso mais dotado do que a jornalista, - o que só por si receio que não baste a inculcar grandes dotes...
- Montexto
Apesar de "desestabilizar" ser mais correcto, penso que se pode utilizar "destabilizar".
Confirmem por favor!!
Grande John!
- Mont.
O Aulete Digital juntou-se ao Priberam em linha nos critérios de escolha das palavras do vernáculo hodierno para ilustração e defesa (como diria Du Bellay) da língua portuguesa: a de hoje é «chrome-key».
Tem dedo esta gente!
- Mont.
Confesso minha ignorância em certas particularidades genuínas da língua, que me fazem, por vezes, não entender certas proposições. Concordo que o texto é redundante e que o verbo em questão está fora de contexto. Mas não entendo (e gostaria de entender, para poder usá-la conscientemente) porque um verbo presente em todos os dicionários portugueses e brasileiros não seja aceitável.
Nisso estou consigo, caro Paulo.
Confesso que tive de ir ao dicionário verificar que a palavra «destabilizar» existia mesmo. Mas ainda me custa a acreditar! Estava convencidíssimo que apenas existiria «desestabilizar». Não vejo qualquer problema em usar esta última. Mas a primeira... então agora basta acrescentar um «d» no início de uma palavra começada por «es» para construir um antónimo da mesma? Já estou a ver os dicionários a incluir «desperar», «despinhar» ou «destimar» daqui a algum tempo...
RS
Caro RS, chamam-lhe dissimilação, que pode ir, como foi, até à haplologia. Aconteceu a ouros muitos, está a acontecer a mais, e há-de continuar.
Quanto ao resto, faça-lhes ver a luz, Helder, se conseguir...
- Mont.
Não precisa de esperar, meu caro: tenho a impressão de já ter lido "desperar" no Houaiss, mas não quero dar certeza nem fazer falso alarde. Quem o tiver à mão, por favor, verifique.
«A outros», queria eu dizer.
Mas é como nas fitas do velho Oeste: cada vez mais «desperados»!
- Mont.
O Houaiss tem a forma 'desperança', registrada como arcaica:
"s.f. ant. m.q. desesperança ¤ etim f.snc. de desesperança; ver esper-."
No 'Vocabulário histórico-cronológico do Português Medieval', de Antônio G. Cunha:
"desperar
verbo
Atual: desesperar
séc. XV, LEAL, 26.26
Outras tres ha hi em contra: Filhando desordenada sanha ou tristeza onde nom ha cobro nem corregimento. Desperar do que pode per boo esforço e consselho aver enmenda."
Então era só isso mesmo: "desperança". A memória pregou-me uma peça.
Eu acho estas palavras muito importunas. (Ou inoportunas?)
Cumpts.
Pensando sobre o assunto: gostaria de saber se, nas expressões «a viagem correu mal» ou «Como é que correu o teu dia?», o uso do verbo «correr» tem, na sua origem, o do verbo «decorrer». Alguém sabe?
RS
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