E falhado
«Talvez por ter ouvido a voz do dono ou por qualquer outra razão seguramente de intervenção divina, o certo é que o cavalo, acto imediato, deu um valente coice numa rocha. Para espanto de toda a comitiva real, a rocha cedeu e dela começou a brotar água» (Mafalda Lopes da Costa, Histórias Assim Mesmo, 29.03.2011).
Sempre ouvi, li, usei e confirmei agora mesmo — acto contínuo, isto é, em seguida, imediatamente; sem interrupção, continuamente. Só porque «contínuo» e «imediato» são parcialmente sinónimos não vamos agora substituir termos de uma locução fixa, não é? Como? Sim? Estão aqui a dizer-me que Lídia Jorge também usa, e não poucas vezes, esta expressão: «Acto imediato, a porta escancara-se sobre o hall, e a tia Gininha, carregando ao colo a bebé Artemisa, com os dois bracinhos levantados, surgiu do interior das paredes atapetadas» (O Vento Assobiando nas Gruas. Revisão tipográfica: Filipe Rodrigues. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 5.ª ed., 2006, p. 428). Aqui, também faltou um revisor filológico. Para atingir a lábil imortalidade, António Lobo Antunes há muito que se muniu de um.
O erro talvez tenha origem no cruzamento da expressão acto contínuo (imediatamente) com a expressão de imediato (imediatamente). Para confundir ainda mais, podíamos também falar da locução, agora caída em desuso, de contínuo.
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1 comentário:
Eu também já vi claramente visto «acto seguido», talvez influxo de Castela. E aquele «hall», tão internacional e imprescindível! Dá gosto, tanta criatividade e originalidade. E o bom Vasco pode descansar em paz: por estas bandas a «doença» do purismo foi completamente erradicada com a profilaxia dos moderníssimos. Averigúe-se lá agora o que ganhou a «virtude» da pureza com isso, e dizei-me.
— Montexto
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