4.3.11

Como se fala na rádio

Ser uma messalina

      «De uma mulher devassa, promíscua, de má índole e intriguista diz-se que é uma messalina. A expressão deriva de uma figura histórica, a imperatriz romana Valéria Messalina Augusta, mulher do imperador Cláudio e mãe de Britanicus. […] E foi precisamente por conspiração e adultério que Messalina acabou por ser ela própria condenada à morte e executada após ter sido descoberto que tencionava matar o marido e colocar o amante no lugar do imperador» (Mafalda Lopes da Costa, Lugares Comuns, Antena 1, 4.03.2011).
      Há aqui pábulo para muito mais, mas só dois reparos. Primeiro: se disse Britanicus em vez de Britânico, também deveria ter dito Claudius, Suetonius e Tacitus. Segundo: não deveria ter bem assente, antes de ler, qual a pronúncia de «Messalina»? É que, se ouvi bem (ouçam aqui), pronunciou-o de três formas diferentes.

[Post 4515]

15 comentários:

Francisco Agarez disse...

Pelos vistos (ou pelos ouvidos), este programa é um chorrilho de disparates. Eu, que não sou ouvinte da Antena 1 (masoquista que sou, prefiro aguentar diariamente, pela manhã, o estilo untuoso, caudaloso e contentinho do senhor Paulo Alves Guerra), passei por lá há dias e ouvi a senhora dizer que as mangas de alpaca eram brancas!

Bic Laranja disse...

Devem ser várias: uma Messalina, uma Messallina e quem sabe algumas messalinas mães de britânicos, que também devem ter sido vários e, pela má língua, de sortidos pais.
É todo um campus de combinações.
Cumpts.

Anónimo disse...

Ora deixai-me cá aproveitar este ensejo para fustigar mais um desmando dos novíssimos, ou nem tanto, vá lá, e que tem passado mui sorrateiro e despercebido à bengalada que tanto merece. Trata-se do giro «após ter sido descoberto».
Hã?! Sim, sim, em bom português, ainda não totalmente esquecido de si mesmo, com as formas verbais emprega-se «depois de», e, com as substantivas, tanto «depois de» como «após».
Assim, no caso em espécie, dir-se-á bem: «depois de ter sido descoberto...» ou «depois da descoberta de que...» ou «após a descoberta de que».
«Após ter visto», etc., mais uma vez e para não variar, é decalque escarrado do franciú, em que se usa sempre «après»: «après avoir vu», etc.
— Montexto

R.A. disse...

Também acho: esta juventude não tem emenda, os novos nada sabem, no meu tempo é que era bom, acabe-se com tudo o que é recente e mesmo os comboios devem deixar de ter a última carruagem!

[após o que lá virá bengalada!]

Bic Laranja disse...

@ R.A.
Ponha-se a jeito, ponha...
Cumpts.

Anónimo disse...

Os cães ladram, e, ainda que estejam a pedir por latidos a calhoada do transeunte, a caravana passa. Não conteis comigo para alimentar perversões de ninguém, e muito menos de masoquistas.
*
Mudando para assunto mais ameno e grato: acabo de ouvir o tal programa, por curiosidade. É pena! A Senhora até tem uma linda voz... Vale a pena ouvi-la, apesar dos nomes romanos.
— Montexto

Bic Laranja disse...

Tem voz doce, sim senhor. E não é só desconchavos, embora ultimamente ande atrapalhada.
Cumpts.

Paulo Araujo disse...

A voz merece ser ouvida, mas exatamente por me fixar na sonorização melódica e timbre bem sensual, confesso que tive uma certa dificuldade, na primeira tentativa, para perceber certas palavras, como índole, imperatriz, executada, caísse e colocar; nosso falar mais lento e mais aberto é uma barreira a transpor.

Bic Laranja disse...

Já sei: ouviu índul', imp'ratriz, iz'cutada, caíss', e cul'car. É assim que falamos. Chega-se cá com treino de ouvido, mais nada.
E há aí defensores acérrimos duma escrita fonética não é verdade?
Cumpts.

Paulo Araujo disse...

Sim, mas nossa fonética pronuncia todas as vogais. Não é muito diferente o que falamos e o que escrevemos; as pequenas diferenças são regionais e o carioca é quem mais distancia o som de algumas consoantes ('d', 't' e 's').
Do que ouvi da Sra. Mafalda (que você grafou corretamente) o que me pareceu mais diferenre foi 'cáisse', em realidade, 'quê-ísse'. Não sei de que região se aproxima o sotaque dela, mas foi um dos mais difíceis que ouvi. Tive vizinhos portugueses cuja fala, mesmo diferente, não apresentava dificuldades para entender.

Bic Laranja disse...

A pronúncia de Mafalda Lopes da Costa é lisboeta mas não lisboeta de bairro (estudou no Liceu Francês) e parece-me que andou pela Venezuela.
Atenção que sotaque, os portugueses não têm, mas tudo é reltivo.
Cumpts. :)

Anónimo disse...

Carreguei na ligação do caro Bic. Se é aquela, está perdoada.
— Montexto

Paulo Araujo disse...

Prezado Sr. Bic;
não quis insultar; usei a acepção 3 do Houaiss para me exprimir:
'3 (1881) ling pronúncia característica de um país, de uma região, de um indivíduo etc.; acento '.
A data, 1881, indica que a acepção está na edição original do Caldas Aulete, redigida por Santos Valente, tido como 'o Cícero de Coimbra', que foi, de fato, quem redigiu todos os verbetes do CA, a partir da letra B. Tenho essa versão original, um verdadeiro tesouro da língua, praza aos ceús.

Paulo Araujo disse...

Sr. Bic,
Mesmo tendo me chamado à atenção, digo-lhe, com todo meu sotaque, muito obrigado por me ter dado a oportunidade de ver Mafalda Lopes da Costa; vou juntar sua voz à de outras duas admiráveis: Dulce Pontes e Teresa Salgueiro. Tanto quanto a voz, a imagem teria certamente inspirado Guerra Junqueiro ao descrever Impéria.

Bic Laranja disse...

@ Paulo Araújo
O polimento das suas réplicas ultrapassa o simples 'smile' com que disse o que disse.
Rendo-me a isso.
Cumpts. :)