O do triunvirato
«O anúncio do grupo francês surgiu a poucas horas do início da cimeira bilateral entre a Itália e a França, em Roma, que promete ficar ensombrada por esta jogada gaulesa nada desejada pelo Governo romano» («Lactalis lança OPA à Parmalat para reagir a lei de Berlusconi», Carla Aguiar, Diário de Notícias, 27.04.2011, p. 34).
«Governo romano»: pensamos logo em Marco António, em Lépido e em Octávio, por exemplo. É uma figura de estilo, bem sei, mas vai a par do uso imoderado do termo «luso» na imprensa gratuita. «Jogada gaulesa» é outro produto do excesso de imaginação.
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9 comentários:
COMO SE ESCREVE NOS JORNAIS
«Marraquexe: Morte de português confirmada» («Correio da Manhã», em linha).
O pessoalinho periodiqueiro e outro já se esqueceu, ou nunca soube; mas conste que se deve escrever e pronunciar «Marráquexe».
- Montexto
Mais: no livro da viagem de Edith Wharton por Marrocos, publicado pela Europa-América, nem uma só vez atinam com a grafia do topónimo.
O erro a fazer lei, como aliás sempre costumou, e ao presente se reforçou.
- Mont.
Este título, "Como se escreve nos jornais", é-me pretexto (mas seria preciso algum?) para chamar a atenção para o texto de hoje de José Queirós, provedor do «Público».
É sobre a escrita nesse diário, e particularmente o labor de revisão. Nota picante: o grande jornal passou dos iniciais 16 revisores para os actuais cinco.
Sim, Marráquexe. Daqui formaram os portugueses... Marrocos. O reino com sede nessa cidade dominava, ao tempo, o Magrebe ocidental.
Perguntem a um marroquino que pronuncie o nome dessa belíssima cidade, e soará qualquer coisa como marróksh. Daí criámos nós o nome para o país.
Mais tarde, ao perdermo-nos em Al-Ksar-el-Kebir (O Palácio Grande), colaborámos na unificação do reino, criando, pela segunda vez, "Marrocos".
Está tudo em Quem inventou Marrocos (Editora Ausência, 2004).
Muito bem, Venâncio.
Sirva-nos ao menos de solaz recordar que não só descobrimos, mas já inventámos países, agora que destruímos o nosso. Não é a primeira vez; esperemos que não seja última.
Quanto à redução do número de revisores, será porque dizem que agora está tudo na internet e nos flips ou flaps: basta carregar nuns botões, e é uma iluminação. Resultados à vista.
— Mont.
Na Enciclopédia Portuguesa e Brasileira ainda se escreve Marráquexe, mas em quase todos os prontuários e enciclopédias recentes o acento evaporou-se. O Novo Prontuário Ortográfico, de José M. Castro Pinto, na edição de 2010, regista Marraquexe, e numa nota refere-se a «variante» Marráquexe e a informação de que a tendência é para usar aquela e não esta. A Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, «Edição Século XXI», só regista Marraquexe. A 50.ª edição do Prontuário Ortográfico de Neves Reis e Magnus Bergström, da Casa das Letras, agora já adaptado para a nova ortografia, só regista Marraquexe.
Repito: mais um exemplo do erro a impor-se e fazer lei, como sempre costumou, mas moderadamente, por só lhe assistir o povinho; agora porém com toda a força, coadjuvado por prontuários, enciclopédias, e até academias, desse farelo.
— Mont.
Mas, apesar de moderno, ainda vai havendo quem de vez em quando lembre e se lembre das formas correctas:
«. INCORRECTO Marrakesch, Marrakex /ké/
. CORRECTO Marráquexe /rrá/ (R[ebelo] G[onçalves])».
«Prontuário», de D'Sivas Filho, Texto Editores, 2000, 3.ª ed., p. 68.
- Mont.
E mais: «Marráquexe»: Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo, Bertrand, 1996, 25.ª ed., p. 2753.
— Montexto
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