2.4.11

Hífen ou travessão?

O Doutor explica

      Na redacção. Na secção de desporto (ficam assim a saber que não é um desportivo), um jornalista escreveu isto na programação televisiva: «Beira-Mar—Sporting de Braga, 20.h15m. (SportTV1).» Começando pelo fim: há espaço, sim: Sport TV1. As horas já aqui vimos: escrevi (apesar de a minha opção no blogue ser outra) 20h15. E agora o princípio e o principal: «Beira-Mar—Sporting de Braga»?
      Aqui ao lado, Cláudio Moreno pontifica: «O travessão já é vinho de outra pipa; ele serve (1) para indicar, num diálogo, o início da fala de um personagem; (2) para, exatamente como os parênteses, indicar a intercalação de um elemento na frase (como eu próprio fiz, no último período do parágrafo anterior); (3) para introduzir, ao final de um argumento ou de uma enumeração, uma síntese ou conclusão (“Imagine um entardecer de domingo, escuro e frio, debaixo de uma chuva fina, numa estaçãozinha de trens do interior do estado — uma verdadeira desolação!”; (4) para indicar o ponto inicial e final de um percurso ou de um espaço de tempo: a ponte Rio—Niterói; a obra de Tobias Barreto (1839—1869).»
      Será assim (?) no Brasil, não em Portugal. Base XXXII do Acordo Ortográfico de 1945 (e o mesmo se encontra estabelecido no último acordo): «É o hífen que se emprega, e não o travessão, para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente vocábulos compostos, mas encadeamentos vocabulares: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade; a estrada Rio de Janeiro-Petrópolis; o desafio de xadrez Inglaterra-França; o percurso Lisboa-Coimbra-Porto.»
      Quanto às datas, faço, e nem sempre, o mesmo (ou quase: uso meia-risca), mas, como os acordos ortográficos não focam essa questão, fica, por ora, de fora. Mas a ela voltaremos.
      Resumindo: «Beira-Mar-Sporting de Braga, 20h15 (Sport TV1). O Doutor esqueceu-se dos encontros desportivos. Mas qualquer dia chega lá.


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6 comentários:

Anónimo disse...

A norma é a norma, e não serei a aconselhar que não se cumpra. Mas neste caso eu acharia mais clarificador que se tivesse optado pelo travessão porque uma das palavras ou nomes pode já conter o Sr. Hífen, como no exemplo em apreço, e ao primeiro lance e aos mais desprevenidos e menos familiarizados com a matéria pode sugerir que se trata de três entidades. O travessão espancaria essa dúvida...
— Montexto

Anónimo disse...

Estou de acordo com o Montexto. Já agora, seria aceitável utilizar um espaço para desfazer a ambiguidade subjacente a este casos? Por exemplo: Beira-Mar - Sporting.

Anónimo disse...

Cá no Brasil, ninguém escreveria assim, fossem com hífen ou com travessão. O mais certo é que escrevessem Beira-Mar x Sporting de Braga.

Anónimo disse...

Leia-se "fosse com".

Anónimo disse...

Mas o problema permanecerá também no Brasil quanto à «ponte que vai do Rio a Niterói», «ao percurso do Rio a Petrópolis», etc. Fui agora à minha 8.ª do Dic. da Porto Editora anotar esta questiúncula na palavra «travessão», e vi que já lá anotara: «usar travessão, e não hífen, em casos como «percurso Cascais - Cais do Sodré, Coimbra - Lx» («Vocabulário Ortográfico Nova Fronteira»); anotação que devo pois ter colhido neste vocabulário brasileiro de Ant.º Geraldo da Cunha, que comprei num alfarrabista, mas não tenho agora comigo (nem me lembrava do nome do autor, que pesquisei na internet pelo título da obra).
— Mont.

Anónimo disse...

Sim, claro. Só estava chamando a atenção para essa diferença no registro dos jogos. Prefiro seguir o Moreno nessa questão e adotar o travessão para os percursos.