Os limites da língua
Na redacção, quando na televisão alguém disse que o primeiro-ministro adiara a comunicação ao País, ouviram-se vários suspiros de alívio. Vamos para casa mais cedo. Afinal, o jornalista disse logo de seguida que seria adiada... meia hora! É que Sócrates, o Procrastinador, estava a ensaiar o discurso, como se viu na TVI: «Ó Luís! Vê lá como é que fico a olhar para os... Assim fica melhor ou fica melhor assim?» Ao ouvirmos «adiar», pensámos logo, é claro, noutro dia, sem que nos tivesse ocorrido de imediato que adiar é transferir (algo); postergar, protelar, retardar — para daqui a segundos, ou minutos, ou horas, ou dias. Ou sine die, sem fixar uma data futura. São os limites da língua. A+diar existe, mas não (e podia) a+minutar. Com «hora» já não daria.
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1 comentário:
«Que elle promettia que elle tornaria á corte em certo dia adiado» (Frei Heitor Pinto, Diálogos, II, 3, 10).
— Montexto
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