9.4.11

«Manilargas»?

O mãos-largas

      «Vêm aí dias sovinas. Os manilargas de outrora, dos grandes projectos e das obras do regime, vão ser substituídos (às vezes sem ser preciso mudar de pessoal) por forretas públicos, que cortam e contam todos os cêntimos que se atrevam a ser avulsos» («O futuro forreta», Miguel Esteves Cardoso, Público, 9.04.2011, p. 35)
      Miguel Esteves Cardoso também poderia ter escrito large-handed ou openhanded — mas preferiu o termo espanhol. Manilargo(a) é espanhol e significa o que tem mãos compridas. Em sentido figurado, é liberal, generoso. Também em sentido figurado, mas não registado no DRAE, é o ladrãozeco (ladronzuelo), que não o ladravaz. (E lembram-se de Artaxerxes Longímano?) Quando li a crónica, julguei recordar que José Pedro Machado registara a palavra, mas não. Regista, isso sim, manilongo, e a Real Academia Española devia copiar o verbete: «Manilongo, adj. e s. Que ou o que tem mãos longas.║Fig. Influente, poderoso.║Larápio.» Não me surpreendia que tivesse sido usado por algum autor português (e agora por dois), mas manifestamente não precisamos do vocábulo. Temos um só nosso.

[Post 4672]





(A propósito de coisas nossas: já está na barra do lado direito a hiperligação para a Sintaxe Histórica Portuguesa, de Epifânio Augusto da Silva Dias, um dos heróis de Montexto. Descarreguem e leiam-na.)


8 comentários:

Anónimo disse...

Se "manilargo" é espanholismo, lá isso não sei. Mas bem podia ser bom português porque é formado do mesmo modo que outras tantas palavras, tais como, para citar exemplos com a mesma raiz, "manipresto" e "manirroto" (e o próprio "manilongo"). O modelo, salvo engano, é o mesmo de "boquicheio", "olhinegro", etc.

Anónimo disse...

E já agora sobre a hiperligação do pós-escrito: Helder, não pude descarregar o ficheiro em PDF. Funciona mesmo, ou é só comigo que não?

Helder Guégués disse...

Acabei de o descarregar.

Bic Laranja disse...

Também se pode tirar <a href="http://www.archive.org/details/syntaxehistorica00silvuoft>daqui...</a>. Cuido que se lê até melhor que a cópia da B.N. de Lisboa.
Cumpts.

Helder Guégués disse...

Fica então esta outra ligação aqui. É, sem qualquer dúvida, melhor. A leitura em linha é perfeita.

Anónimo disse...

Realmente, «manilargo» é daquelas vozes que, suposto ilegítimas, conservam um ar de família que as torna algum tanto apresentáveis, e por isso bem se compreende o asserto de Kupo.
Mas tal não pode ser o critério porque nesse caso estarão muitas outras formações possíveis, e seria um nunca mais acabar de novidades ao sabor da inventiva e arbítrio de cada um, em prejuízo das formas naturais e autóctones, usadas pelo povo e autorizadas pelos clássicos. Por conseguinte, sufrago inteiramente o entendimento de Helder.
*
Quanto à hiperligação à Sintaxe, rejubilemos, e adentremos os «mil e um mistérios» do cerne da língua portuguesa.
— Montexto

Anónimo disse...

Pode ser, pode ser. É que eu tenho sempre a tendência a ver as coisas pela óptica do poeta e do escritor de um modo geral, para quem a liberdade nessa matéria é sempre necessária e tende a ser positiva. Mas já que estamos ali diante de um texto jornalístico, a postura de fato deve ser exatamente oposta.

Anónimo disse...

Absolutamente de acordo, caro Kupo.
— Mont.