25.3.06

«Com certeza»

Escrever como quem fala




      «Vou ficar melhor concerteza do que estar a lavar a loiça e a fazer comida para aquela cadelagem toda», podia ler-se no 24 Horas («A artista do escândalo», 21.03.2006, p. 51). «Cadelagem» acho um prodígio de criação vocabular (a autora da frase, Natália de Sousa, esteve casada com José Vilhena, o homem da Gaiola Aberta). Quanto ao «concerteza», é uma asneira que só os alunos até ao 6.º ano de escolaridade cometem (também chegam ao 7.º a escrever «derrepente», uma das predilectas). Pelo menos, era o que eu julgava, porque afinal a jornalista Lina Santos, do 24 Horas, também escreve pérolas destas. Com tantas invenções, quando é que os construtores de computadores inventam um sistema que dê um valente choque eléctrico nas polpas dos dedos de quem escreve assim? Fica a proposta.
      Se é uma locução verbal, é óbvio que não se pode escrever como se de uma só palavra se tratasse. Para isso temos «certamente», por exemplo, que é um advérbio.