3.11.06

Tradução: «tramcar»

Imagem: http://upload.wikimedia.org/


Americanos em Lisboa

«Chora, s. m. (de Shore, antr.). Carro de tracção animal para transporte colectivo, usado em Lisboa nos fins do século XIX e princípios do XX» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa).

      Por coincidência, numa mesma semana, deparei-me com um problema de tradução que também obrigou um leitor a pedir-me ajuda. A palavra em causa é tramcar. O contexto, em ambos os casos, mostrava que não se tratava de um eléctrico. (Para um brasileiro, porém, seria sempre e só «bonde».) Era de um veículo a tracção animal que se tratava.
      Mais uma infausta vez, é da qualidade de dicionários bilingues que estamos a falar. O meu leitor usara uma edição, que não identificou, do Dicionário Inglês-Português da Porto Editora. Neste dicionário, como tradução do vocábulo tramcar regista-se apenas «eléctrico». Ora, a verdade é que sendo puxado por muares, uma ou duas parelhas, não são eléctricos. Estes veículos chamavam-se, em Portugal, americanos. Em Lisboa, a primeira linha, entre Santos e Santa Apolónia, abriu a 17 de Novembro de 1873. O último parágrafo d’Os Maias fala de uma corrida de Carlos e de João da Ega para apanharem um americano: «De novo a lanterna deslizou e fugiu. Então, para apanhar o americano, os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela Rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia.» No Porto, a linha de americanos abrira mais cedo, a 9 de Março de 1872. Uns anos mais tarde, alguns destes americanos (fabricados, alguns, na Inglaterra pela Starbuck Car & Wagon Co. Ltd, Birkenhead) foram adaptados a eléctricos.
      Carlos do Carmo canta um fado, com letra de Ary dos Santos, «O Amarelo da Carris», através do qual ficamos a conhecer outro nome para este veículo de tracção animal: «O amarelo da Carris/já teve um avô outrora,/que era o chora./Teve um pai americano,/foi inglês por muito ano,/só é português agora.»

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