4.12.08

Elisões e revisores

Como é?

      A revista Visão (edição n.º 816, 23 a 29.10.2008, pp. 118-24) foi ouvir António Lobo Antunes e Gonçalo M. Tavares a conversar. A jornalista, Sara Belo Luís, fez, e ela própria o confessa, figura de corpo presente. Esteve lá, mas apenas para gravar a conversa. Disse Gonçalo M. Tavares: «Os verbos que não estão são os que não fazem falta. Lembro-me de uma discussão com um revisor por causa de uma elisão. Mas para quê? Estar lá era apenas uma forma de mostrar que eu sabia que o correcto era estar. Não acrescentava nada.»
      A observação parece supinamente inteligente — mas sê-lo-á? Vejamos. Desconheço a frase em causa (e nunca discuto com autores), mas se se tratar, suponhamos, de uma frase com elisão do verbo, isso é perfeitamente gramatical: são as chamadas frases nominais. Se se tratar, por outro lado, de evitar a repetição de um verbo, isso também é gramatical, é correcto. Experimentemos com esta frase de João de Araújo Correia: «Não dava esmola nem sequer os bons-dias a ninguém, mas, era capaz de jejuar dias a fio para acender uma vela no altar de Nossa Senhora do Carmo» (Contos Bárbaros. Lisboa: Editorial Verbo, 1972, p. 85). Suponhamos agora que um revisor atoleimado, que os há, queria enfiar ali à fina força um verbo. Assim: «Não dava esmola nem sequer dava os bons-dias a ninguém, mas, era capaz de jejuar dias a fio para acender uma vela no altar de Nossa Senhora do Carmo.» Pobre literatura, pobre autor. Adeus, zeugma.

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