Vai havendo paciência
Cada vez que aqui escrevo, e já foram algumas, «por que raio» ou «por que diabo», há sempre alguém, que suponho ser a mesma pessoa, que me pergunta se não deveria ser «porque raio» ou «porque diabo». Nunca publiquei nem respondi a esses comentários. Hoje, contudo, faço-o, para ilustração do anónimo que se dá ao trabalho de comentar e de todos os que têm dúvidas. Se não há dúvida que se deve escrever «por que razão» (embora daqui a cinquenta anos ainda haja quem não tenha a certeza), por que diabo há dúvidas quanto a «por que diabo»? Que diabo!...
«Por que diabo lho dissera ela? Tinha obrigação de saber!)» (O Sonho mais Doce. Doris Lessing. 2.ª edição. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues. Lisboa: Editorial Presença, 2007, p. 17).
«Era o que ele tinha para me dar, era o que ele quisera dar-me, era-me devido por costume e tradição, e por que raio não mantivera eu a boca fechada e não permitira que acontecesse o que era natural acontecer?» (Património, Philip Roth. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues e revisão tipográfica de Eulália Pyrrait. Lisboa: Dom Quixote, 2.ª ed., 2008, p. 94).
«Afinal, perguntaria o senhor se fosse pessoa para cortar um depoimento com perguntas desnecessárias, afinal por que diabo deu o casamento em pantanas?» (Primeiro as Senhoras. Relato do Último Bom Malandro, Mário Zambujal. Revisão de Oficina do Livro, Lisboa, 3.ª ed., 2006, p. 67).
Cada vez que aqui escrevo, e já foram algumas, «por que raio» ou «por que diabo», há sempre alguém, que suponho ser a mesma pessoa, que me pergunta se não deveria ser «porque raio» ou «porque diabo». Nunca publiquei nem respondi a esses comentários. Hoje, contudo, faço-o, para ilustração do anónimo que se dá ao trabalho de comentar e de todos os que têm dúvidas. Se não há dúvida que se deve escrever «por que razão» (embora daqui a cinquenta anos ainda haja quem não tenha a certeza), por que diabo há dúvidas quanto a «por que diabo»? Que diabo!...
«Por que diabo lho dissera ela? Tinha obrigação de saber!)» (O Sonho mais Doce. Doris Lessing. 2.ª edição. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues. Lisboa: Editorial Presença, 2007, p. 17).
«Era o que ele tinha para me dar, era o que ele quisera dar-me, era-me devido por costume e tradição, e por que raio não mantivera eu a boca fechada e não permitira que acontecesse o que era natural acontecer?» (Património, Philip Roth. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues e revisão tipográfica de Eulália Pyrrait. Lisboa: Dom Quixote, 2.ª ed., 2008, p. 94).
«Afinal, perguntaria o senhor se fosse pessoa para cortar um depoimento com perguntas desnecessárias, afinal por que diabo deu o casamento em pantanas?» (Primeiro as Senhoras. Relato do Último Bom Malandro, Mário Zambujal. Revisão de Oficina do Livro, Lisboa, 3.ª ed., 2006, p. 67).
10 comentários:
muito bem! eu escrevo sempre, tb, "por que", mesmo que à frente não use, explicitamente, "razão", "motivo" ou "diabo". CPS
Separar o "por" do "que" é, para mim, fácil sempre que consigo, mentalmente, substituir o "que" por um "o qual" (ou, melhor, substituir o conjunto "por que" por "pelo qual" ou "pela qual"). Não sendo o caso, o "porque" vai juntinho.
Se se dá ao trabalho de ter um blogue sobre estes assuntos, por que diabo não há-de esclarecer uma dúvida ou responder a uma pergunta?
Se desconfia que a pergunta é feita com a intenção de o aborrecer, só lhe fica bem responder com paciência e boas razões.
E quem sabe? Muito provavelmente, quem pergunta, pergunta porque vê em si uma voz autorizada. Não responda por enfado, responda como uma forma de agradecer a amabilidade da pergunta.
Então, por que diabo se escreve "por que"?
Sim... mas o «por que» só deve ser utilizado se for equivalente a pelo(a) qual, certo?
A sua soberba só o prejudica profissionalmente. Talvez seja altura de activar a opção de acesso ao blogue só a leitores convidados.
Caro Helder,
Mais uns comentários anónimos deste calibre e dá-se uma alteração súbita do título...
Sim, Catarina, isso podia acontecer. Agora os invejosos já acham que está na altura de activar a opção de acesso ao blogue só a leitores convidados. Fazem lembrar os jogadores viciados que pedem que se lhes proíba a entrada nos casinos. Eu já pedi a alguém para me ler? Se não querem, sobretudo se lhes faz mal ao fígado, não me leiam.
Permitam-me, como locatário da língua, eu que prefiro os (bons) dicionários às (boas)gramáticas - até pela facilidade de procura -, dizer que no Brasil seguimos o que está no Houaiss:
" gram a) como conj. causal e como conj. final, porque deve escrever-se junto; o por e o que escrevem-se separados quando este tem função de pron.relativo (percebi logo a razão por que rias) ou de pron. interrogativo (por que você não voltou logo?) b) não há diferença muito sensível semanticamente entre a explicativa e a causal; segundo os gramáticos, a oração coordenada explicativa ger. é separada da oração anterior por uma pausa, que pode ser expressa na escrita por vírgula, ponto-e-vírgula ou mesmo ponto final".
E ponto final; para mim.
Em relação ao comentário do Paulo Araujo, convém dizer que cá em Portugal há apenas uma pequena diferença: a maioria das pessoas escreve «porque você não voltou logo?» (junto) e «por que motivo você não voltou logo?» (separado). Mas faço notar que há muito boa gente (portuguesa) que não aceita esta regra, e escreve "por que" (separado) em ambos os casos, como fazem os brasileiros.
Fernando Ferreira
Essa "muito boa gente" escreve "por que é que...?" porque a) tem influência do brasileiro ou b) tem idade avançada e escreve à antiga portuguesa ou c).
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