27.11.09

Revisor filológico

Que revisores são esses que...

      Acabo de saber pelo jornal O Figueirense que hoje à tarde, no Casino Figueira, António Bettencourt, que é o revisor filológico da obra, apresentará o último romance de António Lobo Antunes, Que Cavalos São Aqueles que Fazem Sombra no Mar. Já tinha lido no diário i um artigo de Luís Leal Miranda («António Lobo Antunes: Anatomia de um romance», i, 1.10.2009) em que se falava da função deste revisor: «Para preservar a vontade do autor, todos os livros são passados a pente fino por um revisor filológico — de seu nome António Bettencourt. A função deste último par de olhos é verificar que todas as frases, parágrafos e páginas correspondem à última vontade do seu criador.» Bem, a minha função é mais a de verificar que todas as frases, parágrafos e páginas correspondem às regras gramaticais. A minha conversa é com a gramática e com os dicionários. Com quem conversa o revisor filológico?

[Post 2851]

6 comentários:

venancio disse...

Boa!

Anónimo disse...

Para além das gramáticas e dicionários, conversa com o autor e com as regras estabelecidas pela equipa ne varietur. Quer saber que regras são essas e o que faz um revisor filológico? Logo que seja publicada, compre e leia com atenção a Memória Descritiva da Edição Ne Varietur de António Lobo Antunes.

venancio disse...

A "última vontade do seu criador", ou mesmo a primeira: essa não é nenhuma garantia, e nenhum critério, de qualidade linguística.

São conhecidos casos, portugueses, de casmurrice do autor, a resultarem em vergonha geral. Aí, está-se a milhas de qualquer "filologia".

Helder Guégués disse...

Já em 11 de Fevereiro se prometia para breve a publicação desse opúsculo, conforme pude comprovar no blogue de ALA. Tenho muita curiosidade em ler, tanto mais que leio ali que «este livro, que tem uma linguagem muito acessível, faz com que todos compreendam o que foi feito, explica todas as noções filológicas utilizadas, estuda os manuscritos, e tem ainda uma parte final com sugestões concretas e exemplificadas para trabalhos de crítica genética sobre a obra de ALA». Para um opúsculo, é obra.

Anónimo disse...

Para começar, não há nenhum blog de ALA. Há um blog feito por um admirador de ALA, o que é algo muito diferente, e que não é nem a palavra oficial do autor na a da sua editora.

O opúsculo tem cerca de 160 páginas e trata de tudo isso que refere.

Quando se diz que "faz com que todos compreendam o que foi feito", é óbvio que este "todos" se refere a pessoas minimamente informadas, mas não especialistas.

Confesso que não entendo esta vontade de denegrir sem sequer conhecer.

E sim, há casos em que o autor decide contra as regras da gramática e é também para isso que serve o revisor filológico, para evitar que o revisor tipográfico normalize o texto contra a vontade do autor. E são muitos os casos. Terá ocasião de ler no opúsculo, que tão ansiosamente aguarda, quais são e quais as razões, normalmente literárias, para o fazer.

E já agora, gosto muito do seu blog. Parabéns.

Helder Guégués disse...

Não há, acredite, pelo menos da minha parte, qualquer tentativa de denegrir nem a iniciativa nem a função do revisor filológico, que apenas acho, continuo a achar, muito nebulosa. Quanto às decisões autorais contra a gramática, acredite que um revisor linguístico («tipográfico» é manifestamente redutor) também as detecta e respeita.