2.4.10

Correio de droga e mula

Curioso


      «Os 15,2 quilos de coca apreendidos dariam para 76 mil doses diárias» («Judiciária prende 23 ‘correios de droga’ em apenas um mês», S. S., Diário de Notícias, 31.3.2010, p. 21).
      Regozijo-me que o Diário de Notícias grafe o vocábulo, redução, coca sem aspas. Não posso, contudo, deixar de achar que é tontice dizer que daria «para 76 mil doses diárias». Para quantas dariam depende, não? O Correio da Manhã portou-se melhor, pelo menos desta vez: «No espaço do último mês, a Judiciária apanhou, só no Aeroporto da Portela, Lisboa, 18 correios de droga oriundos da América do Sul com cocaína no organismo, num total de 15,2 kg — 76 mil doses individuais» («PJ caça 18 ‘mulas’ com 15,2 kg de ‘coca’ no organismo», 31.3.2010). Quando anteontem uma pessoa me leu esta notícia do CM numa aldeola na falda da serra da Estrela, só me lembrei de anotar mentalmente o uso do brasileirismo «mula». Sim, as aspas... Quase a propósito: só recentemente vi o vocábulo falda ser usado num contexto que nada tinha que ver com montanhas. «Após cerca de uma hora cheguei à falda de uma aldeia» (Viagem ao Fundo de Um Coração, William Boyd. Tradução de Inês Castro e revisão de texto de Maria Aida Moura. Cruz Quebrada: Casa das Letras, 2008, p. 249) Salvo melhor opinião, o Dicionário Houaiss não regista esta acepção de falda: orla; beira. (Caro Paulo Araujo, dê uma palavrinha a Mauro Salles.)

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