Nos Dias do Avesso de hoje, Isabel Stilwell descobriu algo de crucial: ela pronuncia /consâilho/ e Eduardo Sá pronuncia /consêlho/. Esta é que é a verdadeira fractura social entre nós. Os lisboetocêntricos decretaram que só a primeira pertence ao português-padrão, e um dia, se puderem, levam (ou já levaram?) isto para a escrita, e então é que os outros ficarão, mesmo sem abrirem a boca, expostos no seu falar dialectal. Não vejo melhor motivo para uma guerra civil.
[Post 3392]
6 comentários:
Sou um grande ouvinte da nossa TV. É assim: estou a trabalhar e vou ouvindo o que outras pessoas vão também vendo. É a melhor maneira de atentar na pronúncia dos locutores.
Pois bem: por vezes são indistinguíveis as caixas e as qâixas (queixas). Só se distinguem melhor quando ouvimos qâchas.
A mesma regra produz cerâjas, amâxas e invâjas.
Apoio a guerra civil.
P.S.
Por distracção, grafei qâchas. Queria escrever qâxas, claro.
Eu também alinho na guerra. Quando é que começa? (A propósito, eu sou do "Puârto"...)
Depois de anos a ser gozado por não distinguir na oralidade «texto» de «testo» e por achar que «coelho» não é «coalho» (e não nasci assim tão longe de Lisboa, mas para os lisboetas, a Margem Sul é além-Tejo...), contem comigo na linha da frente.
Esta deriva dá-se quando a vogal E, ou o ditongo EI, precedem os sons X, J, LH e NH. O I do ditongo é então suprimido.
Assim, ouvimos em Lisboa pâx (peixe), amâjoa (amêijoa), bâjo (beijo), tâlha (telha), lânho (lenho, então indistinguível de 'lanho'), etc., etc.
Num livro de Lobo Antunes (não sei como ficou na non varietur), uma personagem apanha um 'lenho' num dedo. Uma bela hipercorrecção.
P.S.
Fiz toda a escola primária em Ljbôa, num casebre lúgubre e malsão. Mas guardei umas coisinhas, para não se perder tudo.
Falta no post a referência ao falar portuense, onde conselho se pronuncia conseilho.
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