Cara Luísa Pinto: sempre vi «consílio» e não «concílio», e a explicação é simples: é o vocábulo que Camões usa na estância 20 do Canto I de Os Lusíadas: «Quando os Deuses no Olimpo luminoso,/Onde o governo está da humana gente,/Se juntam em consílio glorioso,/Sobre as cousas futuras do Oriente./Pisando o cristalino Céu fermoso,/Vêm pela Via Láctea juntamente,/Convocados, da parte de Tonante,/Pelo neto gentil do velho Atlante.» Assim, devemos identificar esse episódio como Consílio dos Deuses e não Concílio dos Deuses. Está nos dicionários: consílio é a «assembleia, reunião, comissão, conselho». Concílio sempre se reservou para denominar a reunião de autoridades da Igreja, convocada ou autorizada pelo papa, com o fim de tratar de assuntos relativos à fé, à moral e à disciplina. E, se há dicionários, como o Houaiss, que registam como acepção por extensão de sentido «conselho, assembleia, reunião», devemos evitar referi-la ao episódio da epopeia camoniana. É por isso que lamento que o «livro de apoio didáctico» Para uma Leitura de Os Lusíadas de Luís de Camões, de Silvério Benedito (Queluz de Baixo: Editorial Presença, 4.ª ed., 2008, p. 94), tenha vindo legitimar essa confusão, afirmando «Concílio (ou Consílio) dos deuses no Olimpo».
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