Por vezes, escassas vezes, vejo a rubrica Bom Português, na RTP1. A última emissão que vi era sobre o acento da palavra «efémero». A locutora pronunciou sempre a palavra, fenómeno bem analisado por Fernando Venâncio e quase sempre evitado por outros estudiosos, porque a pronúncia é um tema próximo do tabu, com o e inicial átono a soar como e fechado: ê. Êfémero, disse ela sempre. E se isto um dia vai tudo parar à grafia? Não foi assim fenómeno tão raro a adaptação da grafia à pronúncia. Só um exemplo: irmão, que vem do latim, e depois de vários fenómenos fonéticos, germanu, deveria, por respeito à etimologia, escrever-se «ermão», mas a influência da pronúncia do e átono inicial como i foi decisiva. «Um disparate ênorme», diz o leitor? Veja bem o que diz.
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2 comentários:
Sim, caro Helder, a pronúncia do E átono inicial como ê (e não i) data dos anos 80, e iniciou-se com pessoas de quem se percebia que saboreavam, gulosamente, a novidade.
Hoje, somos minoria os que não o fazem. Tanto pode a hipercorrecção. Ou o chique.
Mas sabemos que é exactamente assim que a pronúncia se vai modificando. Resistamos, pois. Mas sem grandes ilusões.
Aqui o seu puritanismo é exacerbado. Se há ramo da língua mais moldável e variável é o oral. É muito mais grave para mim se é a escrita que condiciona o oral. Veja-se o caso de «sequestro», por exemplo, que segundo sei possuía trema acentuando o u, o qual é hoje omitido pela maioria dos pivôs. Enfim, mas também não será por aí que grande mal advirá ao mundo.
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