Ontem vi na RTP Memória um episódio de Miss Marple. A metediça «detective amadora» hospeda-se no requintado Hotel Bertram e começa a fazer aquilo que melhor sabe fazer: meter-se na vida dos outros. Não gostei muito, mas isso não interessa para aqui. A tradução, de Accra B. Rockley, causou-me, aqui e ali, alguma estranheza, mas nenhuma como esta: o tradutor omitiu sempre — sempre — o artigo antes do substantivo «certeza». E não foram menos de doze vezes! Nada que não tivesse visto e corrigido muitas vezes, pois há tradutores, com nome mais português do que Accra B. Rockley, que fazem precisamente o mesmo. E porquê? Isso é que não sei, mas aconselho-os: ouçam como falam as pessoas.
[Post 3505]
5 comentários:
É a construção brasileira, que os brasileiros usam coerentemente. «Tenho certeza que ela está em casa».
Já agora, gostaria de saber se, além do artigo A, o tradutor também elidiu a preposição DE.
Este segundo traço é já tolerado em Portugal. Mas pode dar ambivalências como «Tenho a certeza que tu não tens»...
Sim, com elisão também da preposição.
Então o tradutor é brasileiro. Só pode.
Não, Anónimo/Anónima.
O tradutor deve ser portuguesíssimo (caso contrário, o nosso amigo Helder tê-lo-ia detectado a cem metros...).
O que sucede é que, sob a pressão duma norma prestigiosa, como é a brasileira, a nossa expressão tem-se vindo a acomodar... Com algum ganho pontual, mas também com simples substituição de formas (palavras e locuções) portuguesas.
Suspeito de que se trate do pseudónimo de um professor universitário. Alguns gostam muito de se resguardar de fracassos desta forma.
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