11.7.10

Acordo Ortográfico

Pontos cardeais


      «Para os leitores devotos de Nabokov, O Original de Laura oferece os seus próprios êxtases. Surge-nos como um prolongamento, uma aparição final de um velho amigo que pensávamos ter partido para sempre. Avança aos solavancos, é um monte de cacos, mas são cacos de Nabokov e de mais ninguém: a “malévola compaixão” que os presentes na festa dedicam a uma Flora embriagada; os “cremes alheios” que Flora encontra na casa de banho de alguém (recordando a solene poça de urina alheia” depositada pelo Sr. Taxovich noutra casa de banho, em Lolita); a divertida meia rima de belie e belly [engano e barriga]; a inclusão talvez desajeitada de um pedófilo chamado Hubert H. Hubert; e uma frase perdida, evocativa, na margem do cabeçalho de uma ficha, sem qualquer contexto: “Os toldos laranja dos verões do sul.”» («O epílogo de Vladimir Nabokov», Lev Grossman, Visão n.º 904, p. 115).
      Já vi, mas não li, O Original de Laura. Não sei se já é grafado segundo as novas regras ortográficas. Se o não for, o erro é só de quem traduziu o artigo de Lev Grossman. Erro que é a prova, se é que era necessária, de que uma mera «máquina de tirar consoantes» não é suficiente para nos pôr a escrever segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990. Na citação, o ponto cardeal designa uma região e — vejam se aprendem de uma vez — foi empregado absolutamente. Logo, grafa-se com maiúscula. «Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático» (Base XIX, «Das minúsculas e maiúsculas», 2.º, g)).

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