Se não devemos, razoavelmente, esperar que os dicionários gerais da língua expliquem que o córtex está dividido em seis camadas, numeradas de I a VI e todas com uma designação específica, porque não são enciclopédias ou manuais de Medicina, já acho muito razoável que esperemos encontrar neles o próprio vocábulo «neocórtex». Consultemos, por exemplo, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (2009). Na página onde devia estar registado (p. 1115), esbarramos com o vazio entre «neócoro» e «neocriticismo». Deve ser por se tratar da área mais evoluída do cérebro... Em contrapartida, todos registam, por exemplo, o vocábulo «rádula», que designa o órgão semelhante a uma língua de muitos moluscos, entre eles o caracol. Munida de numerosos dentículos, serve para cortar os alimentos — plantas, que os caracóis são herbívoros. Qual o critério para estas exclusões? Falta de espaço? A sério? Por mim, dispensem o encarregado da guarda, limpeza e boa ordem dos templos, entre os pagãos.
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4 comentários:
Esta entrada induziu-me uma outra pergunta: como se consulta um dicionário ao contrário?
Dava jeito para as palavras cruzadas (sem hífen?)...
Como hei de descobrir o vocábulo omisso: esse tal encarregado?!
Não se pode fazer tal. Há é dicionários ideológicos, que permitem encontrar palavras, isto é, significantes, partindo das ideias ou conceitos que eles designam.
Atenção, há dicionários inversos: são extensas listas de palavras alfabetadas a partir da letra final. Sim, dão jeito aos cruciverbistas; são sobretudo recursos muito importantes para quem trabalha em língua. Tanto quanto sei, há duas edições em papel. Creio que a mais recente é dos anos 90, do Prof. Ernesto d'Andrade, editora Colibri (se não estou em erro).
Há dicionários inversos, sim senhor, mas através deles nem R. A. nem ninguém chega ao significante se o não conhecer.
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