«As lambras estendiam-se ladeira a baixo na direcção do autotanque de Alcobaça, acabado de capotar» («O lume que trouxe o diabo no corpo», Rita Carvalho, Diário de Notícias, 14.08.2010, p. 2). A jornalista também gostou da palavra «lambra», e, com o entusiasmo, errou: escreve-se «ladeira abaixo». Mais à frente, porém, lemos isto: «“Se eu estivesse aqui, olhe que morria. E se não fosse o meu filho a levar-me no carro, estrada acima, como é que eu fugia?”, pergunta Esmeralda, apoiando o peso do corpo entravado no pau de madeira, habituado a servir de bengala há já muitos anos» (idem, ibidem, p. 5). Lembrem-se do poema de Fernando Venâncio: «Escada acima,/Escada abaixo,/Rua afora,/Mar adentro.» Se o corpo estivesse apenas «entravado no pau», teria gostado muito. Para quê «pau de madeira»? Pau não é (lanço mão da definição do Dicionário Houaiss) «qualquer madeira, ou pedaço dela (acha, bastão, lasca, vara, viga, etc.)? A imagem da entrevistada sugere isso mesmo: inclinada para a frente e apoiada no pau, o corpo está travado — entravado. Perigosamente próximo de entrevado. Ou será que, sou agora assaltado pela dúvida, a jornalista queria escrever «entrevado»?
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