15.8.10

Revisão

Uma lição portuguesa


      O trivial: faltas de concordância, erros de pontuação e de ortografia, frases ilegíveis e falta de cultura. Um escreve sobre «um encontro que oporará dois crónicos candidatos», outro confunde «conjuntura» com «conjectura», aqueloutro escreve «beneficiência», estoutro assevera que a capital de Cabo Verde é a «Cidade da Praia», e por aí fora. «“Já se tornou um hábito”! Um hábito, dois hábitos, três hábitos...», murmura o revisor antibrasileiro. Contudo, o que o faz mesmo entrar em delírio é a palavra «soalheiro». Tratava-se de uma ficha de jogo, com o número de espectadores, a hora a que começou, faltas e outras informações de igual jaez e relevância. Naval-FC Porto. «Fim de tarde soalheiro», escreveu o inocente jornalista. Nisto, o revisor lança um grito triunfal e agarra no dicionário e quer ver, à viva força, no verbete «ensolarado», com que queria substituir aquele «soalheiro», algo como «diz-se do tempo em que há sol», mas, desobediente, o dicionário só lhe diz «que está ao sol; soalheiro». Já a matéria não nos obedece. Deve ser porque as ondas de calor interferem com as ondas telepáticas, refractando-as e dispersando-as no éter.

[Post 3787]

3 comentários:

Anónimo disse...

Pergunta sem ironia: o mal da "Cidade da Praia" é que, na verdade, a capital de Cabo Verde é a "cidade da Praia"? Ou engano-me?

Helder Guégués disse...

E porque não apenas Praia? Afinal, a capital de Portugal também não é a Cidade de Lisboa nem mesmo a cidade de Lisboa. Sem ironia.

Anónimo disse...

Já eu gostava de saber, em definitivo, quem é o tal revisor antibrasileiro.