15.8.10

Revisão

Uma lição africana


      Mário Pinto de Andrade estava então radicado em Cabo Verde. Tinha mandado rever o texto de um discurso e, quando o revisor lhe entregou as provas, viu, satisfeito, que todas as desconcordâncias, todas as faltas de ortografia, todos os problemas de pontuação estavam resolvidos. Em boa hora (para ele, e má para o revisor), porém, aprofunda a análise e vê que o sapateiro, perdão, o revisor, se tinha atrevido a «corrigir-lhe» uma tirada marxista (ou será proudhoniana?). O intelectual africano tinha escrito «exploitation de l’homme par l’homme», mas o revisor quis que fosse «exploration de l’homme par l’homme». Não morreu então, mas explodiu, apopléctico, perguntando se o revisor já se atrevia a corrigi-lo e se não sabia que exploration se usa em relação à extracção de minério. Uns rapapés, umas humílimas escusas do revisor — e uma lição para a vida.

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