8.9.10

Como se escreve nos jornais

Como a pescada


      Avalie o leitor por si próprio com que critério e tino escrevem alguns jornalistas. Começo por transcrever o último parágrafo de uma notícia sobre um homicídio: «A autora dos disparos foi detida pela GNR, mais tarde entregue à PJ, e ontem ouvida no Tribunal de Moncorvo. À hora do fecho desta edição, a audiência ainda não tinha terminado.» Pois é, a audiência ainda não tinha terminado, mas a jornalista nos primeiros parágrafos já tinha uma certeza: «A mulher matou Luís Moreira com dois tiros desferidos à queima-roupa, usou uma pistola de calibre 3,35 milímetros, adaptada e considerada ilegal. O crime ocorreu no café, depois de a vítima ter esfaqueado o filho da arguida, com 36 anos, na sequência de uma discussão que começou por causa de cinco euros encontrados no chão» («Mulher mata homem com dois tiros num café», Glória Lopes, Jornal de Notícias, 7.09.2010, p. 11).
      O «presumível», com que éramos bombardeados a toda a hora e em todos os meios, já é menos correntio, mas o salto pode ter sido excessivo, descompassado: é-se logo arguido, mesmo antes de a autoridade competente o ter declarado. Juízo, precisa-se.

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