Ratos e cardos
Num sonho, apareceu a Carlos Magno um anjo que lhe disse para atirar um dardo. O dardo atingiu uma planta, um cardo. O anjo disse então ao imperador que os soldados, que estavam então a ser dizimados pela peste, que fossem tratados com aquela planta seriam curados. Esse cardo, muito comum nos Alpes, foi então chamado carlina, em homenagem a Carlos Magno. (Sim, sim, o Dicionário Houaiss, desta vez em todas as versões, não regista esta acepção, apenas a que diz respeito à construção de pontes.) Vulgarmente, também é conhecido por cardo-acaule. Em inglês, porque é, na verdade, de tradução que trata esta entrada, diz-se silver thistle, e o tradutor ficou-se por «cardo». A pergunta é: não é deliberadamente empobrecedor optar por não especificar? Optamos, conscientemente, por diminuir a riqueza, ao nosso alcance, do original? Já antes, um bank vole (Clethrionomys glareolus) tinha sido vertido simplesmente como «rato». Devemos contentar-nos com a família, omitindo a espécie e a subespécie? Será a literatura alérgica à exactidão, à precisão?
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1 comentário:
A literatura não é. Quem é alérgico à precisão são muitos tradutores, escritores, jornalistas, etc., que neste capítulo vivem num nevoeiro perpétuo. A precisão e propriedade exige conhecimento da língua, que por sua vez implica o tal compulsar diurno e nocturno dos bons autores, que para esta qualidade não são senão os clássicos, com Vieira à cabeça. E depois ir folheando dicionários e glossários. Não bastam licenciaturas, mestrados, pós-graduações, doutoramentos e respectivas dissertações e teses feitas a poder de muitas leituras estrangeiras e traduzidas.
- Montexto
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