12.11.10

Do ferrador ao siderotécnico


Outra língua


      Há umas quantas semanas, no Portugal em Directo, na RTP 1, vi uma breve reportagem sobre um curso de ferração de cavalos na Escola Superior Agrária de Castelo Branco. Contudo, como devem imaginar, na universidade não podia entrar com este nome, mas com estoutro: Acção de Formação em Siderotecnia. Na promoção do curso, porém, viram-se obrigados a escrever num português compreensível: «Acção de Formação em Siderotecnia (Ferração de Equinos)». O formador é o ferrador, perdão, o siderotécnico Carlos Luís. Tudo isto me fez lembrar João de Araújo Correia: «[O homem hodierno] Prefere o pirotécnico ao fogueteiro e, se lhe cai um cravo à burra, não o leva ao ferrador. Leva a burra ao siderotécnico» (A Língua Portuguesa, João de Araújo Correia. Lisboa: Editorial Verbo [s/d, mas de 1959], p. 45).

[Post 4071]

3 comentários:

Anónimo disse...

Grande João de Araújo Correia! Outra bom ensejo para dizer bem. Não é por acaso que logo no «Sem Método», seu pródromo, lhe acode à pena o nome de Turgueniev.

«Ferradores ... procura-se.» A língua portuguesa no seu melhor!
Já deixei aqui consignada o juízo de Rui Barbosa sobre a vida parlamentar, a administração e o jornalismo - que «têm sido, em toda a parte, os mais poderosos corruptores da língua e do bom gosto». Pois bem: junte-se a força deletéria de todas estas instâncias, e ter-se-á uma ideia aproximada da força corruptora da universidade e afins.
- Montexto

Anónimo disse...

P.S. - Só para se fazer um conceito rápido sobre a altura e mestria de João de Araújo Correia na língua portuguesa, lembre-se que o próprio Aquilino, apesar de mais velho do que ele cerca de 14 anos, e que sabia do que falava neste particular, lhe chamava «mestre de nós todos».
- Montexto

Paulo Araujo disse...

O pomposo siderotécnico faz nada mais nada menos que uma parcela do trabalho de um bom alveitar, este desde o século XV.