«O sol não liga nenhuma à hora de nascer ou de se pôr. Como me explicou Sebastião Carvalho, numa carta, lusco-fusco vem do latim de “luz que foge”, pelo que nunca se pode aplicar ao amanhecer» («O bom tempo no mau», Miguel Esteves Cardoso, Público, 2.11.2010, p. 39).
Fartei-me de rir com esta etimologia fantasista. Talvez o máximo que se possa dizer é que é de origem obscura, e nem o marquês de Pombal pode dizer o contrário. Uma coisa, porém, é certa: não falta quem, a começar pela minha mulher, esteja plenamente convicto de que lusco-fusco só designa o crepúsculo vespertino. Foge-lhes da compreensão um fenómeno que se chama extensão de sentido.
[Post 4038]
3 comentários:
Concordo que é mais prudente considerar de origem obscura a expressão lusco-fusco. Uma justificação que encontro para defender a hipótese de lusco-fusco vir de lux quæ fugit (que eu conhecia de Aquilino Ribeiro, no prefácio ao Dicionário de Calão de Albino Lapa: «Quem diria que suis pes resultava em chispe, lux quae fugit em lusco-fusco, callis angusta em cangosta?») é haver em galego uma forma sinónima lusquefuxe, atestada no Vocabulario Ortográfico da Lingua galega (http://www.realacademiagalega.org/volga/index.jsp), que poderia ser forma intermédia. [Num documento chamado Bibliografía analítica da lingua galega (http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/01394908611571423647680/033569_0003.pdf), encontrei, a par de luscofusco e lusquefuxe, muitas expressões semelhantes: entre lusco e fusco; entre lusque e fusqu; entre o lusco e o fusco; entre luscas e fuscas; ó fusco non fusco; entre fusque e fusque; entre rusque fuste; entre trusque e fusque.] Mas também é muito possível que lusquefuxe seja forma posterior a luscofusco, resultando de uma interpretação desta expressão.
Também se pode pensar que tanto lusco como fusco isoladamente têm conotações de escuridão e que não há, por isso, necessidade de procurar outra origem que não seja a justaposição dos dois elementos…
Muito interessante o comentário de Lucas Lindegaard.
A expressão original parece ser entre lusco e fusco, presente em vários textos de Seiscentos.
LUSCO, que significa "zarolho", é (foi sempre) pouco frequente. FUSCO é forma antiga do actual FOSCO.
Vários dicionários galegos dão conta de lusco e fusco, dois adjectivos justapostos.
Tudo leva a crer que "lusquefuxe" é, como Lucas sugere, etimologia popular.
Quero acrescentar um "e" que falta em "lusque e fusqu-", no meu comentário anterior, e acrescentar também que descobri hoje que, em minderico ou mindrico, o célebre calão de Minde, lusca significa "noite". A informação encontra-se em várias páginas na Internet, por exemplo, num documento que está no site do Instituto Camões: "Calão Minderíco. Alguns têrmos do "Calão" que usam os cardadores e negociantes de Minde, concelho de Alcanena." F. Santos Serra Frazão, 1937 (http://cvc.instituto-camoes.pt/bdc/etnologia/revistalusitana/37/lusitana37_pag_101.pdf).
A entrada fusca é, no entanto, pouco clara:
fusca - A noite. Por tôda a parte se diz o lusco-fusco, à boquinha da noite.
- "Deixa-me ir até ao parreiral, que já aí vem a fusca.
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