25.12.10

Adaptação de estrangeirismos

Imagem tirada daqui

Paratonnerre


      A propósito da adaptação de estrangeirismos, e concretamente do galicismo abat-jour, de que o mesmíssimo Garrett também se ocupou, Vasco Botelho de Amaral mostrou, no seu Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português, ter seguido a lição camiliana de aprender no «dicionário inédito do povo». Assim, certa vez, ouviu de um gaiato (palavra, infelizmente, pouco usada hoje em dia) «apara-raios». E eu também já a ouvi da boca de gente simples. «Ora», justifica Vasco Botelho de Amaral, «o gaiato que disse apara-raios desviou-se do falar geral e talvez incurável (que adoptou pára-raios), mas deu-me lição de aportuguesamento analógico admirável. Na verdade, se os pára-raios aparam os raios que atraem, que melhor aportuguesamento haveria do que este de apara-raios, com semelhança fonética e de esplêndida precisão descritiva do aparelho?» (Porto: Editorial Domingos Barreira, 1947, p. 15).

[Post 4226]

1 comentário:

Anónimo disse...

«- Faz favor de se calar e tirar esse "tapa-luz" do candeeiro, sr. Eduardo, que eu não sei se o que faço... troquei as lãs.
- O "tapa-luz"!... seria do "tapa-luz"... ou distracção por estar a pensar no que ontem lhe disse aquela pessoa?
- Pessoa! Que pessoa? Não diga sensaborias, e tire o "tapa-luz".
- "Tapa-luz" é palavra que... (tirando o "tapa-luz").
- Diga, diga alguma palavra bonita do "tapa-luz"... das que tem sempre pra dizer...
- "Tapa-luz"... "tapa-luz"... é como quem diz...
E não disse nada.
Então "tapa-luz" não presta talvez.
Pois busquem outra coisa para "abat-jour"... que eu não sei.
Aqui está como se experimenta uma palavra: se as sujeitassem sempre a este processo, talvez não tivéssemos algumas tão chochas e tão deslavadas na nossa língua.
Voltemos ao salão francês.
O "abat-jour" representa a cena do», etc., etc. («O Inglês», nas «Obras Completas de Almeida Garrett, Círculo de Leitores, III, p. 133).

Aqui está como o Divino desperdiçou uma boa oportunidade de se recolher ao silêncio tão próprio dos deuses.
Venha cá agora, que muito se há-de refocilar com tamanha cópia de palavra sápida e colorida.
- Montexto