8.12.10

Bíblia e tradução

Entre nós


      Também embirro (mas não digam a ninguém) com Revelation traduzido por... Revelação. Na nossa tradição, o último livro da Bíblia é o Apocalipse. É, bem sei, o mesmo, pois «apocalipse» é um termo grego que significa precisamente «revelação».
      Mera divagação, queria falar de outra questão. Lembram-se do que aqui disse sobre o verbo inverter? Vejam este título do Diário de Notícias: «Passos diz que vai demorar duas legislaturas para inverter os erros». Contudo, a afirmação de Pedro Passos Coelho que justificou o título é esta, reproduzida no mesmo artigo: «Corrigir os últimos anos de inconsciência vai demorar vários anos de dificuldades e até penúria» (Paula Carmo, Diário de Notícias, 29.11.2010, p. 9). Então, sendo assim, melhor teria sido titular: «Passos diz que vai demorar duas legislaturas para corrigir os erros». Isso de «inverter» os erros, próprios ou alheios, parece-me coisa impossível — e malissimamente escrita.

[Post 4172]

6 comentários:

Francisco Agarez disse...

A propósito de revelação (ou não muito a propósito, mas tenho de me livrar deste espinho que se me atravessa na garganta) ouvi hoje o presidente do Metro do Porto dizer, a propósito de um novo troço, que os passos "concursais"... E lembrei-me de muitos pequenos anúncios, publicados nos jornais, de "abertura de procedimento concursal" e penso: de onde veio este aborto da natureza gramatical? Alguém me sabe dizer?

Helder Guégués disse...

Em espanhol diz-se procedimiento concursal e em catalão, procés concursal. Há-de ter-nos vindo via Parlamento Europeu. De qualquer modo, também embirro com a expressão.

Anónimo disse...

Escreve-se e fala-se em português, sobretudo os jornalistas, mas não só, commo se esta língua fosse o mesmo que as cobaias em experiências científicas: «anima vili».
- Montexto

Monia disse...

Na tradução da Bíblia usada pelas Testemunhas de Jeová, a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, o último livro da Bíblia é traduzido por Revelação e não Apocalipse. Quem sabe se o tradutor não estaria mais familiarizado com esta versão? E dado o carácter escatológico do mesmo, este livro acaba por ser um desenrolar de revelações a S. João sobre o final dos dias. Logo, a meu ver, a tradução não estará completamente incorrecta. Mas como nem sou Testemunha nem versada em grego ou hebraico, isto foi uma mera divagação.

Anónimo disse...

E, por falar de qualidade, só agora reparei, Helder: àquele «embirro» não devia seguir-se uma preposição, talvez «com»? A intercalação dos parêntesis deve ter contribuído para a omissão...
- Montexto

Helder Guégués disse...

Tem razão, Montexto. Já corrigi. obrigado.