22.12.10

Como se escreve nos jornais

Mutações


      É ilustrativo da inanidade da crítica ver como para uns a música de Lady Gaga é puro lixo acústico, enquanto para outros é pura harmonia celestial imperdível. Bem, mas não é isso que interessa agora, mas o nome da criatura. Da «loura explosiva», como li há dias, mas esta é uma opinião ainda menos consensual. O nome, pois. Há escassos meses, era Lady GaGa (e podia até ser, a acreditar na fonte de inspiração, Lady Ga Ga); agora, já é Lady Gaga. Descuido ou mera imitação do que se vai escrevendo na imprensa internacional? «O vídeo que promove o novo álbum da cantora Lady GaGa levou 15 milhões de pessoas ao YouTube» («Lady GaGa colocou a irmã no vídeo visto por 15 milhões», Diário de Notícias, 16.03.2010, p. 56). «Os números antecipados não deixaram ninguém enganado. Os números, entenda-se, das vezes que Lady Gaga mudou de roupa, dos novos temas a ser revelados ao longo do concerto, da quantidade de camiões que transportam na estrada todo o aparato cénico que transporta a Monster Ball Tour» («O baile de orgulho de Lady Gaga e os seus ‘monstrinhos’», Nuno Galopim, Diário de Notícias, 12.12.2010, p. 58).

[Post 4217]

7 comentários:

Anónimo disse...

Para quem é, «whatever works» - bacalhau basta, como verteria o padre Macedo, cujo arrocho arrieiral tanta falta faz a tantos lombos.
- Montexto

Marco Lima disse...

Caro Montexto, desculpe contrariá-lo, mas não, "bacalhau basta" não serve. Boa ou má artista, tem um nome, e o nome lá tem de se escrever como a senhora o quer: Lady Gaga. Também eu não aprecio especialmente os filmes de Manoel de Oliveira, mas não é razão para lhe chamar Manuel ou Manel...

Anónimo disse...

Seja.
- Montexto

Anónimo disse...

O busílis da questão é justamente saber como deseja a dama ter seu nome artístico grafado. Procurei um sítio oficial, mas o que me pareceu ser o oficial era todo escrito em letras capitais, assim também como as capas de seus discos, de modo que não obtive sucesso em saber como é a grafia "oficial" ou desejada pela artista.

Anónimo disse...

A quanto obrigam um cavalheiro os desejos de uma dama! (Ainda nem tudo está perdido.)
- Montexto

Anónimo disse...

Como se escreve nos jornais? Pano para mangas...
Mas, para abreviar e mais uma amostra, escreve-se assim: «Só espero que, quando um dia chegar [o FMI], o dr. Encarnação regresse à pátria e traga com ele os enfermeiros». Lê-se esta pérola de correcção no «Correio da Manhã», de 19.12.2010, assinada por João Pereira Coutinho (que aliás tão bem sabe falar da «sprezzatura», condição essencial do bom estilo).
Aqui já não se trata de mera grafia ou ortografia, mas do cerne mesmo da língua, da sintaxe, da concordância de pessoa e pronome, aspecto bem mais momentoso, e, no caso, erro de muito maior gravidade.
Já o vimos aqui perpetrado também por Rui Tavares no «Público».
E estes são dos melhores!

Mas nós continuemos a RE-SIS-TIR, nem que seja malhar em ferro frio. «Point n'est besoin d'espérer pour entreprendre ni de réussir pour persévérer»: moto de Carlos, o Temerário, duque da Borgonha e filho de Isabel de Portugal. Façamo-lo nosso.
- Montexto

Anónimo disse...

Contra a confusão no emprego dos pronomes «ele, ela, eles, elas» e «si», dos solecismos que hoje mais afeiam e deturpam a língua, já João de Araújo Correia, na «Enfermaria do Idioma», Imprensa do Douro, 79: «Em bom português só se admite “si” referido ao sujeito da proposição. O figo cai por si; o homem caiu em si; a menina voltou a si.
O erro, se apenas brigasse com o português clássico, ainda se poderia admitir como conquista de natural evolução. O pior é que veio desbancar o “si” bem empregado. Em consequência de tão injusta proscrição, diz-se para aí: o figo cai por “ele”; o homem caiu “nele”; a menina voltou a “ela”.
Isto é horrendo. Conduz a este horror o mau emprego do “si”. Imagina o papalvo que este pronome só se aplica em diálogo como sinónimo de você ou outro que tal tratamento. É o que o papalvo imagina...»
O solecismo estende-se depois ao «consigo» e «para si», quando erroneamente postergados por «para ele (ou eles, ela, elas)», e por «com ele (ou ela, eles, elas)».
No exemplo de Coutinho, a mera e humilde, mas boa, correcção pede pelas alminhas que se diga e escreva «que o dr. Encarnação regresse à pátria e traga consigo os enfermeiros».
Antes de nos pormos a arengar ao respeitável público e povo, por que não repassamos a matéria da primária?
- Montexto