«A reavaliação do caso poderá trazer de novo para a ribalta um dos aspectos menos claros dos anos de poder do ex-chefe do governo Tony Blair, acusado por Kelly de ter inventado provas para justificar a invasão do Iraque. O cientista, recorde-se, foi a fonte de um jornalista da BBC, que colocou em dúvida os argumentos de Blair para justificar a guerra no Iraque. Dois dias depois, Kelly apareceu morto e o jornalista foi despedido» («Tony Blair sob suspeita», F. J. Gonçalves, Correio da Manhã, 30.12.2010, p. 32).
«Colocou em dúvida»! E os revisores deixam que estas barbaridades cheguem aos leitores, que pagam e só reclamam por insignificâncias.
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9 comentários:
E todavia, Helder, dei agora com com a sua página em linha com o título «Respostas em Carreira», em que leio: «Esclareço os leitores que me colocaram as suas dúvidas. E espero mais correio com perguntas.»
- Montexto
Mas isto é uma monomania de "colocar"! Anda tudo doido?
Pois é, Montexto, mas eu estou em condições de lhe provar que esse é acrescento editorial, uma apresentação, e não foi da minha lavra. Ainda assim, não se precipite: a expressão não é a mesma.
Ainda não sendo a mesma, também é censurável nesse contexto e caso: questões não se colocam em nenhum lado nem a ninguém: levantam-se, apresentam-se, suscitam-se, propõem-se.
Colocar e até pôr questões veio direitinho e tolinho do franciú «poser questions», como se sabe, e já Botelho de Amaral verberou o seu uso, que entre nós passou até a abuso, atestado nos casos expostos neste blogue mais de uma vez.
Naquele contexto nem de questões se trata, mas de meras perguntas, que em bom português se fazem, simplesmente, sem mais complicações nem prosápias.
Mas, como a expressão não é da sua lavra, meto a viola ao saco, e já cá não está quem falou.
Em todo o caso, quem há aí tão acabado que tudo faça e diga com perfeição, como advertia o nosso bom D. Duarte? Depara-se-me no «Doutor Fausto», de Thomas Mann, tirado em linguagem por Herbert Caro (também tradutor da «Montanha Mágica»), «revista para Portugal por José Jacinto da Silva Pereira», Dom Quixote, 4.ª ed., pág. 145, isto: Um rapaz «casara-se com uma honrada mulher, sem, no entanto, conseguir "conhecê-la", já que o ídolo se deitava sempre entre eles. Por isso, a cônjuge, melindrada por boas razões, abandonou um rapaz, que então, até ao fim dos seus dias, se viu reduzido à convivência com o intolerante demónio.»
Lê a gente, e pasma de erro tão palmar e grosseiro, a afear a tradução de uma obra de tanto momento.
Mero lapso? Vá-se lá saber...
- Montexto
«abandonou o rapaz», e não «um rapaz».
- Mont.
Não percebo o erro, Montexto. Seria talvez o "conhecer" no sentido de "ter relações sexuais com; copular"?
Procure o leitor curioso em «cônjuge«, e revelar-se-lhe-á a chave do enigma.
- Mont.
Ah, sim. Agora percebo. É que o verbo vinha entre aspas, que julguei fossem suas, para destacá-lo.
Se não for assim ainda hão-de «posicionar em dúvida».
Melhor é deixar.
Cumpts.
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