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5.4.11

Verbo «colocar»

Duas na ferradura

      «A expressão tem uma explicação bastante simples e prende-se com o trabalho de ferragem dos cavalos, sendo que aos pregos com que se ferram os cavalos, ou seja, com que se coloca a ferradura no cavalo, se chamam cravos e que, ao ferrar o cavalo, os ferradores martelavam o cravo, ou seja, o prego, e a ferradura num movimento alternado, que terá dado de forma irónica origem à expressão dar uma no cravo, outra na ferradura» (Mafalda Lopes da Costa, Lugares Comuns, Antena 1, 4.04.2011).
      Sabe que está sob escrutínio, mas escreve assim: «sendo que aos pregos […] se chamam cravos». E lá está uma das maleitas da actualidade: o verbo «pôr» escorraçado. «Colocar ferraduras»! Não era mister tal autoridade («Infalíveis neste baixo mundo, só o Papa e a Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, mas aquele é mais contestado», comentou aqui certa vez Montexto), mas aqui vai: «Ferrador, s. m. Indivíduo que tem o ofício de pôr ferraduras nos animais […].» O ferrador (ou, em linguagem fina, o siderotécnico) não aplica, nem mete, nem coloca, nem implementa ferraduras — põe-nas!

[Post 4653]

31.12.10

«Pôr em dúvida»

A olhos vistos


      «A reavaliação do caso poderá trazer de novo para a ribalta um dos aspectos menos claros dos anos de poder do ex-chefe do governo Tony Blair, acusado por Kelly de ter inventado provas para justificar a invasão do Iraque. O cientista, recorde-se, foi a fonte de um jornalista da BBC, que colocou em dúvida os argumentos de Blair para justificar a guerra no Iraque. Dois dias depois, Kelly apareceu morto e o jornalista foi despedido» («Tony Blair sob suspeita», F. J. Gonçalves, Correio da Manhã, 30.12.2010, p. 32).
      «Colocou em dúvida»! E os revisores deixam que estas barbaridades cheguem aos leitores, que pagam e só reclamam por insignificâncias.

[Post 4260]

23.12.10

Verbo «colocar»

Compulsivamente


      «“Chegou a casa, seco, sem o computador e com muita fome.” Foi assim que Igor, o jovem de 14 anos de Rio de Mouro, Sintra, que se encontrava desaparecido há uma semana, colocou um ponto final no desespero dos seus pais, que até e-mails enviaram para o gabinete do primeiro-ministro, José Sócrates, solicitando ajuda» («PJ esteve em contacto com jovem desaparecido que regressou ontem», Carlos Rodrigues Lima, Diário de Notícias, 23.12.2010, p. 23).
      Caro Carlos Rodrigues Lima, então agora já não se diz nem se escreve «pôr um ponto final»? E aí na redacção ninguém sabia?

[Post 4218]

31.10.10

Verbo «colocar»

A maldição


      «Tony Carreira», lê-se no Diário de Notícias de hoje, «voltou à escola onde fez o ensino primário em Armadouro, uma aldeia do concelho da Pampilhosa da Serra, para “um desfiar de recordações” durante a conversa com Manuel Luís Goucha, no programa De Homem para Homem, que hoje vai para o ar às 21.00, no TVI 24» («Tony Carreira partilha recordações com Goucha», Filomena Araújo, Diário de Notícias, 31.10.2010, p. 67). «O cantor recorda», escreve a jornalista, «“a sua professora que o colocava frequentemente de castigo por causa das traquinices que fazia, que o mandava muitas vezes ao quadro e que foi a primeira pessoa da aldeia a ter uma televisão e, por isso, convidou a turma inteira para ir a sua casa assistir às celebrações do 13 de Maio”, revela Manuel Luís Goucha.» O mais certo, se teve sorte, foi a professora pô-lo de castigo; passado todo este tempo, a realidade surge desfocada, e onde havia pores agora há colocares.

[Post 4029]

7.6.10

Verbos trocados

Colocar, meter, pôr...


      Ainda hoje o leitor Fernando Ferreira deixava o seguinte comentário a um texto meu sobre a espúria substituição do verbo pôr pelo verbo meter: «Sobre o uso indevido do verbo “meter”, aqui vai mais um exemplo, publicado hoje (7/6/2010) na edição on-line do jornal Expresso: “A tentativa serviu para gerar um movimento a favor do casamento de pessoas do mesmo sexo: “Graças a Deus, correu bem, porque metemos toda a gente a mexer”, conta, orgulhosa.”» Um exemplo, este ilustrativo da troca do verbo pôr pelo verbo colocar, do Diário de Notícias: «Para combater a obesidade infantil e mudar mentalidades, o Hospital de São João e a Faculdade de Desporto do Porto (FADEUP) têm em vigor, desde 1998, um projecto que procura colocar pais e crianças a praticar exercício físico» («São João e Faculdade de Desporto “colocam as crianças a mexer”», Helder Robalo, Diário de Notícias, 31.5.2010, p. 14). O jornalista cita no título, mas não no segmento atrás, alguém, que identifica. Devia, porém, ter corrigido, expungindo o modismo.

[Post 3560]

10.4.10

O defunto verbo «pôr»

Jornalistas gozam connosco


      «Um vídeo colocado ontem no YouTube, em que alegadamente se relata uma situação ocorrida numa escola do Porto, mostra duas jovens a gozarem com uma professora enquanto aquela as coloca na rua» («Estudantes gozam com professora», Tânia Laranjo, Correio da Manhã, 6.4.2010, p. 52).
      O ridículo não acaba. Até já imagino a jornalista, furiosa, numa discussão: «Coloque-se já no olho da rua, seu desavergonhado! Não possui um pingo de vergonha!»

[Post 3328]

13.3.10

Verbo «colocar»

De quem não ama a língua


      «Portugal espera convencer os países participantes na 15.ª Conferência sobre o Comércio Internacional de Espécies (CITES), que começa hoje no Qatar, de que pesca artesanalmente o atum rabilho e que, por isso, não coloca a espécie em risco. De acordo com o Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade [ICNB], a CITES é “um acordo internacional ao qual os países aderem voluntariamente”» («País garante sobrevivência do atum rabilho», Correio da Manhã, 13.3.2010, p. 19).
      Por onde começamos? Pelo título. Tendencialmente, a imprensa vai adoptando o hífen para ligar os nomes compostos que designam espécies botânicas e zoológicas, alteração que já aqui saudei. Sobre este mesmo assunto, o Diário de Notícias, por exemplo, grafa atum-rabilho (e até diz que também é conhecido por atum-vermelho). Também no sítio do Oceanário surge com hífen. Mas não era disto, juro, que queria falar, antes denunciar, mais uma vez, o uso do verbo colocar. Jornalistas e revisores estão apostados em descaracterizar a língua.

[Post 3236]

15.2.10

Como se escreve nos jornais

Tomem sentido


      Enquanto os apicultores fazem a língua, os jornalistas desfazem-na: «O Marítimo teve o jogo nas mãos, mas a equipa de Domingos Paciência somou mais três pontos e voltou a colocar o Benfica em sentido» («Vitória do Sporting de Braga com um golo que vai dar que falar», Luís Octávio Costa, Público, 15.2.2010, p. 24).

[Post 3141]

19.6.09

Verbo «meter». Confusões (II)

Mete pena

      Já aqui abordei mais de uma vez as confusões em relação aos verbos pôr e colocar e, menos frequente, entre estes e o verbo meter. Veja-se este exemplo: «Sai do mato dentro de uma carrinha vermelha de caixa aberta. Apanha o cabelo, mete os óculos escuros, compõe o sutiã e vira-se de novo para a estrada» («Romenas disputam estrada», Sónia Trigueirão, Correio da Manhã, 14.06.2009, p. 7). Ó senhora jornalista (e senhora, não é?, revisora), então meter não é «inserir, pôr dentro, fazer entrar, introduzir»? Podia ter metido os óculos num estojo, isso sim.