Duas na ferradura
«A expressão tem uma explicação bastante simples e prende-se com o trabalho de ferragem dos cavalos, sendo que aos pregos com que se ferram os cavalos, ou seja, com que se coloca a ferradura no cavalo, se chamam cravos e que, ao ferrar o cavalo, os ferradores martelavam o cravo, ou seja, o prego, e a ferradura num movimento alternado, que terá dado de forma irónica origem à expressão dar uma no cravo, outra na ferradura» (Mafalda Lopes da Costa, Lugares Comuns, Antena 1, 4.04.2011).
Sabe que está sob escrutínio, mas escreve assim: «sendo que aos pregos […] se chamam cravos». E lá está uma das maleitas da actualidade: o verbo «pôr» escorraçado. «Colocar ferraduras»! Não era mister tal autoridade («Infalíveis neste baixo mundo, só o Papa e a Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, mas aquele é mais contestado», comentou aqui certa vez Montexto), mas aqui vai: «Ferrador, s. m. Indivíduo que tem o ofício de pôr ferraduras nos animais […].» O ferrador (ou, em linguagem fina, o siderotécnico) não aplica, nem mete, nem coloca, nem implementa ferraduras — põe-nas!
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