Outro anglicismo completamente desnecessário — e tão na moda que todo o bicho-careta procura desesperadamente ocasião de o usar — é resort. Muito se usa e abusa, hoje em dia, da palavrinha. Os jornalistas, esses grandes propinadores destes venenos de venda livre, começaram a usá-lo há não mais de meia dúzia de anos. Alguns tradutores também o acham necessário para exprimir um conceito que reputam completamente alheio. E estância, meus senhores, essa linda palavra? Acrescentem «balnear», «de Verão», «de Inverno».
O mal dos estrangeirismos é que dão muito nas vistas. «A língua», como escreveu João de Araújo Correia na obra A Língua Portuguesa, «não deve mudar a olhos vistos. Deve ser como pessoa amada, que todos os dias se modifica sem que o notemos.»
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12 comentários:
Dizer melhor é impossível.
- Montexto
Chegando as férias, quem há de
ficar em casa? Com sorte,
não eu: sairei da cidade
em busca dalgum resorte.
=D
Se toda a gente que concorda colocasse aqui um comentário esgotava-se a capaciadde (memória) do blogue, por isso, senhor HG, não se impressione por receber poucos comentários de apoio.
A chamada netiqueta diz que não é preciso apoiar, basta escrever quando se discorda...
Acabo de ler em nota de rodapé na Sic Notícias o seguinte:
"Kim Kleijsters vence Justine Henin em Anvers."
Anvers? Onde foi parar a adorada Antuérpia?
Mas que fazer quando quem de direito acha que a palavra em inglês é preferível?
Colaboro numa publicação especializada em turismo. Também a mim me repugna escrever "resort" quando podia escrever em português "estância".
Mas todos os novos empreendimentos usam "resort" e outras palavras em inglês a torto e a direito. "Golf resorts", então, é ao pontapé. Se um senhor empresário resolve que o seu negócio é um "resort", e dá ao estaminé o nome "resort", como é que o posso corrigir?
E não nos ficamos por aí. Há algum tempo entrevistei um indivíduo que era director financeiro de uma empresa do Algarve. Queria tratá-lo por director financeiro no artigo, mas disseram-me que não; o título oficial do senhor é "CFO". Se ele quer que lhe chamem "CFO", não podemos tratá-lo como um reles "director financeiro", disseram-me, embora o significado seja rigorosamente o mesmo.
Que fazer? O que me irrita mais é que a invasão do inglês não é imposta pelos falantes do inglês, que se estão bem nas tintas para se nós aqui em Portugal termos estâncias ou resorts. É determinada pelos falantes de português que, cada vez mais, parecem ter vergonha da própria língua.
André,
E vamos com sorte quando não lhe chamam... Amberes.
Amberes é a forma castelhana, certo? Anvers tenho ideia que é a francesa. Neste caso, creio que o jornalista de serviço recebeu a notícia em língua estrangeira, via agência externa, e não soube que Anvers é aquela cidade onde já tivemos importante feitoria, centro do comércido diamantífero e capital da batata frita. Palpita-me.
Ao Redactor Frustrado:
A lástima das lástimas é que nesta terra «quem de direito» quase sempre é torto.
A André:
E a pátria de Jean-Jacques, meu caro, quantas vezes a viu por aí vestida à portuguesa?
Ao 3.º Anónimo:
Apoiado!
- Montexto
Na RTP, Basileia, na legendagem de umas declarações de Dominique Strauss-Kahn, passou a ser Bâle.
Meus caros, é que «em Portugal tudo se pode ser (tudo é um modo de dizer), menos português».
Quem disse isto, quem foi? O idolatrado Fernandinho Pessoa. Na «Carta a Um Herói Estúpido». Sabia do que falava, como se comprova quotidianamente.
- Montexto
Sejamos realistas: uma boa fatia dos utilizadores portugueses não estaria disposta a pagar numa estância o que paga num resort. É uma questão de status, factor de diferenciação a que os lusitanos dão especial relevância. Mesmo que os proprietários desses estabelecimentos tivessem preocupações nobres com a língua pátria (que não têm, na generalidade), o factor económico ia pesar mais, certamente. Logo, esta é uma causa perdida.
Lá está.
— Montexto
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