«Por fim, combinámos que eu informava a polícia sobre a recuperação da taça e dos relógios. Naturalmente, Tanata não me perguntou quem tinham sido os autores, assim como eu me abstive de lhe perguntar sobre Pocol e Wagner. Só a polícia colocou questões; eu pude evocar a minha obrigação profissional de guardar segredo para proteger os meus clientes» (Crimes, Ferdinand von Schirach. Tradução de João Bouza da Costa e revisão de Clara Boléo. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2010, p. 39).
A polícia às vezes faz grandes estupidezes, e essa de «colocar as questões» é mais uma. Se isto já chegou aos livros revistos, é porque estamos mesmo perdidos. E o narrador, que é advogado, a «evocar a obrigação profissional de guardar segredo», também não é coisa inesperada — só errada. E palavrosa. Invocar, queriam o tradutor e a revisora escrever. E aqui o segredo pode transmutar-se em sigilo.
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6 comentários:
Lindo de morrer!
E «quem tinha sido os autores»?!
Espanque-mos uma e outra vez o «colocar questões» e outros abusos deste verbo-escalracho até que a tecla se gaste. Mas, Helder, essa já está por todo lado, e nos considerados melhores, com toda a desfaçatez e - o que é pior, por mais significativo - com toda a inconsciência.
- Montexto
Ora aqui está, bem a propósito: «Nada de Cultura», programa inaugural a passar agora mesmo na TVI 24, 13.01.2011, 1 hora e pouco da manhã: acabo de ouvir a Francisco José Viegas: «A mesma questão coloquei ao ...», etc.
Bem sei que foi em diálogo, mas na escrita e nos artigos e nos livros é a mesma coisa: fartam-se de «colocar». Todos «colocam», como dantes disse o velho Francisco de Quevedo das galinhas e das mulheres: que todas põem, umas ovos, outras cornos.
- Montexto
Então, Montexto? Espanque-mos? Este não me parece que seja um erro de digitação... E também não me parece que seja um erro que se possa catalogar de maravalhas... Não estava mesmo à espera desta calinada sua.
É a terceira vez que envio este comentário ou parecido, mas não há maneira de o ver à mostra. A ver se é desta.
Pois bem:
O adorável leitor quer dizer e diz lá na sua que eu escrevi «Espanque-mos», com o fatal traço da discórdia, naquele engano de alma ledo e cego de que essa é a boa forma. E eu não me importo: de mim podem dizer cobras e lagartos, - contanto que não seja verdade.
- Montexto
Dou-me já por sortalhudo quando o Viegas e quejandos colocam a questão. O que me desepera é que a idiotia vigente já chegue a ponto de não atribuir ou atribuir, nem (vá lá) sequer colocar recursos, e em vez disso dê em alocar.
Cumpts.
... atribuir ou distribuir...
Cumpts.
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