17.1.11

Infinitivo

Também podia ser


      Um leitor, A. C. M., acaba de me mandar uma mensagem de correio electrónico em que me diz que no texto anterior, sobre o uso escusado e errado do vocábulo «gay», o verbo «trabalhar» não podia estar flexionado. «Alguns dos operários despediram-se, por julgarem que ao trabalharem sob o arco-íris das Pinturas Zeitoun iria supor-se que eles eram gay, que por qualquer motivo a empresa somente conseguia contratar pintores gay» (Zeitoun, Dave Eggers. Tradução de Jorge Pereirinha Pires e revisão de Carlos Pinheiro. Lisboa: Quetzal Editores, 2010, p. 24). Não é assim. Se for regido de preposição (a, na frase citada), o infinitivo pode ser flexionado ou não: ao trabalhar ou ao trabalharem. Ambas as construções estão correctas.

[Post 4331]

4 comentários:

Jonh disse...

Boa noite,

É uma das minhas maiores dúvidas linguísticas. Nunca sei quando utilizar um verbo flexionado ou não flexionado. Já agora, se quiserem explicar quando se utiliza uma uma e outra forma, agradeço.

Anónimo disse...

É matéria tanto gramatical propriamente dita como estilística, sobre a qual não é possível ditar regras fixas para todos os casos.
No em apreço, porém, não cabe dúvidade de que seja excactamente como Helder disse.

Caro Jonh, o melhor é passar uma vista de olhos ao estudo «O imperfeito do conjuntivo e o infinito pessoal no português», de José Maria Rodrigues, e a «Tempos e Modos em Português. Contribuição para o estudo da sintaxe e da estilística do verbo», Boletim de Filologia, 3, 1934-1935, pp. 15-36, e sobretudo a um famoso de Manuel Said Ali sobre o infinitivo pessoal e impessoal.
Se não descobrir nenhum destes, basta ler o que o «grande, exímio e inolvidável» (no conceito de Mário Barreto, que peço vénia para fazer também meu) Epifânio Augusto da Silva Dias assentou sobre o assunto na sua mirífica «Sintaxe Histórica Portuguesa», Lisboa, 1918, disponível em linha, na Biblioteca Nacional Digital.
- Montexto

Anónimo disse...

P.S. - Esqueceu-me dizer que o estudo «Tempos e Modos em Português» é da autoria de Manuel de Paiva Boléo.
(O meu comento anterior tem vários lapsos de escrita, tão óbvios que qualquer os vê e emenda, como diria D. Francisco Manuel. Mas realmente nesta caixa não me ajeito bem a digitar...)
- Mont.

Anónimo disse...

Por exemplo, haja vista este caso célebre: «E folgarás de veres a polícia...»
Não me devo enganar muito se disser que quase toda a gente escreveria, e eu também: «E folgarás de ver a polícia...»
No entanto, quem escreveu a primeira forma foi Camões, e os gramáticos não a condenam, explicam-na com mais ou menos subtilezas e introduzindo mais ou menos matizes.
E a prova de que a forma mais geral e correntia seja a segunda está na atenção que a primeira tem suscitado, e a necessidade que se tem sentido de a justificar...
Se o Épico tivesse empregado o infinitivo impessoal (folgarás de ver), o verso passava despercebido, e ninguém se lembraria sequer de parafusar no assunto...
- Mont.