«Leila Trabelsi, antiga cabeleireira, filha de um vendedor de fruta e legumes, tinha crescido num dos mais pobres bairros da medina de Tunes» («Mulher do ex-Presidente liderava “cleptofamília”», Maria João Guimarães, Público, 20.01.2011, p. 9).
O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora em linha lá continua a ignorar que a palavra «medina» existe.
[Post 4363]
14 comentários:
Ainda mais de pasmar: o Dicionário de Cândido de Figueiredo, 25.ª ed., ignora «caso»! (Lapso evidente, decerto. Mas calha a todos...)
- Montexto
Certamente, fruto do acaso; o Professor não erraria por desatenção. No meu exemplar também não consta, mas aparece numa edição eletrônica, disponível em
< http://www.gutenberg.org/files/31552/31552-0.txt >
" *Caso*,
_m._
Acontecimento, facto: _os casos do dia_.
Hypóthese, circunstância: _no caso de se portar bem..._
Difficuldade.
Importância.
Acaso.
Estima: _faz caso da pobreza_.
Manifestação individual de uma doença: _houve hoje quatro casos
de peste_.
_Gram._
Desinência de nomes e pronomes, para lhes designar a relação
syntáctica, em algumas línguas: _o nominativo é caso directo_.
(Lat. _casus_)", copiado da edição de 1913. Confirmo, portanto, que a culpa não foi do Professor.
Também o Dicionário Houaiss ignora "medina". Como, aliás, ignora "burca" e outras palavras de uso corrente que percebi ao longo dos anos de consulta, mas agora não me ocorrem de exemplos.
A minha edição é em papel.
Mas claro que a culpa não foi do professor - que era reconhecidamente homem de sujeito, verbo e caso: é caso para o dizer, - nem tal me podia passar pelo miolo, salvo que as minhas luzes se tivessem acabado de apagar de todo...
Mas Cândido de Figueiredo foi professor? Talvez. Eu não sabia...
- Mont.
Curiosamente o Dicionário de Cândido de Figueiredo, na versão em boa hora referida por Paulo Araújo, contém "presidenta"!
____________
* *Presidenta*,
_f. Neol._
Mulhér, que preside.
Mulhér de um presidente. Cf. Castilho, _Sabichonas_, 128.
(Fem. de _presidente_)
____________
Já o "Novo Diccionario da lingua portugueza - o mais exacto e mais completo de todos os diccionarios até hoje publicados", de que tenho um exemplar da 3.ª edição, de 1855, refere que "presidente" é o “homem que preside a camara, congresso, assembléa, junta, academia, acto litterario” – podia lá ser uma mulher, naquele tempo!
Mário Barreto já referiu esses exemplos no estudo que dedicou ao tema, e que extractei em suma neste blogue quando apareceu a questão.
- Mont.
Sim, Cândido de Figueredo foi professor provisório do Liceu Central de Lisboa, entre muitas outras coisas. Como se diz no meu Nordeste, o dicionário dele foi muito bulido e tanto que, além de muitos acréscimos, teve pelo menos este decréscimo (caso).
Acrescentando: destaquei sua condição de professor pelo respeito que dou a essa profissão, hoje tão pouco valorizada.
Esqueci de referir que o Novo Diccionario da lingua portugueza citado num comentário feito acima é da autoria de Eduardo Faria.
O volume I da 3.ª edição ("corrigida e copiosamente ampliada") do Novo Diccionário da Língua Portuguesa (Cândido de Figueiredo), editado em Lisboa pela Sociedade Editora Portugal-Brasil Limitada, acabado de imprimir em 25 de Setembro de 1922, lá descreve "ipsis verbis" o mesmo texto do trazido `a colação no cibersítio www.gutenberg.org.
No respectivo cibersítio o Aulete Digital regista:
MEDINA, « sf.
1 Ant. Arq. Hist. Parte de uma cidade, ger. habitada por mouros, construída em locais altos, ger. nas proximidades de um castelo; ALMEDINA
[F.: Red. de almedina, do ár. al-medina.]»
Tempos houve em que também só havia «senhor», «português», «montês» para designar os dois géneros. E dizia-se: «a minha senhor» (por exemplo nas cantigas de amigo e de amor), «a português linguagem», — e, com referência ao feminino, ainda se pode dizer «a cabra montês»; mas, pela tal tendência, índole e génio da língua português (para usar um arcaísmo), que não descansa e muito se apraz em gerar formas próprias para cada género (em «feminizar» e fazer o que no franciú muito estomagava o tal defunto), já só se diz «a minha senhora», «a linguagem portuguesa».
A basezinha.
— Montexto
Agora que Franco e Silva mencionou a variante "almedina", fui ao Houaiss e verifiquei que lá está. Mas, vejam a incoerência, ao fim da definição, um sinônimo para o qual não há verbete próprio: "s.f. (1094 cf. JM3) ant. a parte de uma cidade (sobretudo marroquina ou habitada por mouros) construída em lugar alto, ger. em torno de um castelo; medina ¤ etim ár. al-medína 'cidade', depois 'a zona nuclear do aglomerado habitacional' "
É a chamada 'pista perdida', da qual nenhum grande dicionário anterior à digitalização total conseguiu escapar. Curiosa é a datação para almedina; segundo Machado, desde 1094
no vernáculo.
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