Parçaria
Andarim, beleguim, galopim, querubim, serafim... Lembram-se de aqui ter tratado da suposta origem portuguesa do vocábulo «mandarim»? Vejo agora que Agostinho de Campos também reflectiu sobre o assunto:
«Mandarim foi considerado outrora, principalmente por estrangeiros, como derivado do nosso verbo mandar. Dalgado e Gonçalves Viana reduziram a pouco, mas talvez não ainda a nada, esta lenda etimológica. O segundo daqueles grandes filólogos, nas suas Apostilas (II, 104, ed. de 1906) diz que o vocábulo é Índico (em indostano mantri, “ministro”) e que a influência do português consistiu em mudar o final tri em dari, provàvelmente por influência do verbo mandar. A tese da derivação directa dêste nosso verbo parece-lhe insustentável, “porque não existe na nossa língua sufixo –im para derivar de infinitos de verbos substantivos de agente”. Esta razão não parece bastante, pois na língua podem surgir sufixos novos, ou ampliar-se o emprêgo dos antigos; e o –im existia para certos substantivos de agente, como querubim e serafim, derivados de plurais hebraicos, e beleguim, que Sousa deriva do arábico. Além dêstes lembra-nos andarim, que Morais tira do Suplemento de Bluteau, e dá como sinónimo de andarilho — “homem de pé que corre adiante dos coches por Estado” (por luxo ou representação, como hoje se diz). Êste vem indubitàvelmente do infinitivo andar. Averiguar-lhe a idade é caso para segundas leituras. Galopim, de galoper, ou galopar (conforme tenha vindo de França ou de Espanha) é, de-certo, muito moderno. Mas, directa ou indirectamente, mostra a formação, com –im, de substantivos de agente derivados do infinito.
O sr. Pamplona filia mandarim no sânscrito mandalin, e o mesmo fazem vários Larousses que temos à mão. Dalgado, na sua Influência do vocabulário português nas línguas asiáticas, p. 102 (edição de 1913), cita como étimo o mesmo mantri e acrescenta: “A mudança de t em d e a dissolução da consoante composta tr podem ser devidas ou à influência de mandar, ou, antes, a alguma língua da Insulíndia.” E diz mais, em nota: “A nasalização do i final é regular, na transição das palavras orientais para o português. Cf. lascarim, mordexim, palanquim”. Acrescente-se Samorim, Cochim, chatim, etc., embora Barros e outros escrevessem o sufixo ij, em vez de im.
De tudo isto se conclui que o patriotismo etimológico tem ainda margem para barafustar, alegando que, pelo menos, se formou uma parçaria do verbo português mandar com a palavra oriental, para, juntos, darem à luz o vocábulo mandarim» («Lusismos no francês», in Língua e Má Língua. Lisboa: Livraria Bertrand, 1944, pp. 14—15).
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6 comentários:
Talvez se possa ajuntar abexim e canarim.
Cumpts.
Arcolim, bandim, barchim, barganim, bantim, basim, becassim, begarim.
Contribuamos também para este peditório: paladim, lapantim, cornetim, estufim..., enfim, um sem fim.
— Montexto
Ative-me apenas aos que vêm de idiomas sul-asiáticos,dos locais por onde andaram os descobridores portugueses; se formos incluir os que vieram do italiano e do francês a lista é, de fato, sem fim.
@ P.A.
Por instantes cuidei que pedia para lhe activarem algo. Vício de novileitura, não faça caso.
Cumpts. :)
Só para lembrar que, em hebraico, «serafim» é plural de «Seraph», e «querubim», de «Cherub».
Cumprimentos
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