11.3.11

Português arcaico

Quamdo foi sabudo pello reino

      Hans Christian Andersen também era «moço de corda» (sem ser títere...). Por causa do medo de incêndios, andava sempre com uma grande corda na mala. A ideia era, ao mínimo sinal de fogo, poder descer por uma janela. Só falo em cordas, porém, por propósitos suicidas ou homicidas. Vejam: no laboratório, foi apresentado um texto eciano e uma professora, que aparenta ter saído há menos de dez anos da faculdade, considerou-o «fácil, porque apresenta um Português arcaico fácil de identificar». Eça de Queirós, português arcaico... Que dizem os meus leitores destes sólidos conhecimentos de parte do nosso professorado?

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9 comentários:

Anónimo disse...

Não tarda muito e tudo o que estamos a escrever hoje será considerado por alguns português arcaico, devido ao AO de 1990. Até o «Assim Mesmo», versão pré-2012.
RS

Anónimo disse...

Eu já aqui registei que os novíssimos, com um grande esforço de erudição, assimilavam os clássicos só com Eça de Queirós. Verifico agora que me enganei, e subestimei as virtualidades da estupidez, apesar de lhe reconhecer desde muito virtualidades, a bem dizer, ilimitadas, louvando-me no juízo autorizado de Flaubert, que passou a vida a parafusar no assunto, consagrando-lhe romances e dicionário. Vejo-me pois necessitado a cantar a palinódia reconhecendo que os novíssimos, com um esforço extenuante de erudição, acabam por identificar Eça com os arcaicos.
Mas o Fernando Venâncio é bem capaz de nos explicar o fenómeno tintim por tintim, e de nos persuadir da sua perfeita normalidade, rastreando-lhe até potencialidades tão inopinadas como prometedoras. Quem sabe? Talvez nos espere um futuro risonho...
— Montexto


P.S. — A 25.ª do Cândido de Fig. desconhece, além da voz «caso», o verbo «subestimar». Oh dicionários da minha terra (como dizia António Nobre dos pintores da mesma)!

Venâncio disse...

Descanse, Montexto. Nem um só neurónio do meu limitado cérebro se moverá (figuradamente, é certo) para fundar, pouco que seja, uma desactualização de Eça de Queirós.

Mas permita-me este lamento: que, depois (ou a par?) da minha fama de limpador de feiras, tenha agora de carregar a de apóstolo da mediocridade. Já é azar.

Bic Laranja disse...

Lá sólidos serão, e hão-de pegar de estaca por inerência de função. O ferro e o cimento em que se fundam é que não vai além do recreio da escola. É a cofragem que pomos à civilização.
Cumpts.

Anónimo disse...

É caso para dizer: não subestimes as falhas dos dicionários. De qualquer forma, não creio que algum dicionário, por muito mau que seja, troque o «Oh» pelo «Ó». Nem o António Nobre, obviamente.

Anónimo disse...

Obviamente, é novíssimo. Há mais matizes e cambiantes — «nuances», para lhe falar em linguagem decerto mais familiar — no oh do que lhe cabe no bestunto.
— Mont.

Anónimo disse...

Pois.

Anónimo disse...

A propósito de Cândido de Figueiredo: acabo de ler a crónica de F.J. Viegas, de hoje, em linha: parece que o austero filólogo se aliviava da aridez das suas enquisas lexicológicas dando asas à imaginação fescenina e cometendo livros dos que só se lêem com uma mão. A Tinta-da-China vai-lhe editar o fruto deste exercício na Colecção Livros Licenciosos. Intitula-se Entre Lençóis.
Quem diria que o Senhor Professor, como lhe chama Paulo Araújo, se dava a estes arreitamentos? Sujeito, verbo e caso pelo menos não hão-de faltar...
— Montexto

Anónimo disse...

Eça, português arcaico... é a miséria intelectual das faculdades. Explicar que o francês e o inglês do tempo em que Eça escrevia são o francês e o inglês de agora...