18.3.11

Tradução

Vem do Brasil

      «They enjoyed a chartered boat trip around the Balearic rave island and even treated themselves to a mud bath at a spa.» O tradutor brasileiro, porque é disto que se anda também a falar nas caixas de comentários, verteu desta forma expedita: «Eles fizeram um passeio de barco por todo o balneário e tomaram um banho de lama.» Juro que este não é o pior passo da tradução. E o texto vai ter muitos milhares de exemplares a correr por aí. E quem lê, naturalmente, engole tudo, ou quase.
      Agora digam-me se toda a gente, seja onde for, não apenas no Brasil, está habilitada a traduzir. Mais, digam-me se toda a gente está habilitada a escrever.


[Post 4578]


4 comentários:

Bic Laranja disse...

Olhe o ferrete da xenofobia!...
Cumpts.

Anónimo disse...

Caro Helder, há-de-me fazer a justiça de reconhecer que nem precisa da minha resposta para aqui saberem o que penso da questão. Remeto para o passo de Simon Leys, que trasladei em recente comento, a propósito das qualidades requeridas para uma boa tradução, e que subscrevo inteiramente.
— Montexto

francisco disse...

Fotografo desde 1977 e sou profissional há cerca de 20 anos. Farto-me de rir sempre que ouço a falácia “uma imagem vale por mil palavras” emitida por gente que esquece, ou não sabe, que a possibilidade de múltiplas leituras da imagem confere-lhe uma cómoda subjectividade que não existe, com essa facilidade, na objectividade da escrita. E defendo que o sentimento suscitado por uma foto é uma construção da cultura, transmitida acima de tudo pela língua (escrita e oralidade). Como tal, entre a mensagem que a imagem contém e a interpretação da mesma, existe uma descodificação que recorre a conceitos apreendidos através da palavra. E quantas vezes um pequeno texto (com menos de mil palavras), não nos suscita profundas emoções?!
Para fotografar basta clicar no botão, pois mesmo acidentalmente resultará alguma coisa a que se chame arte ou algum registo documental que passe por intencional. Para escrever, eficazmente, há que dominar a forma. E para isso é necessário saber.
Claro que nem toda a gente está habilitada a escrever (embora todos devam exercitar a escrita). Para além do aspecto formal, que me parece o principal, neste âmbito, existem ainda outras aspectos importantes como o da necessidade de comunicar, de contar algo aos outros – e de ter algo interessante para contar –, bem como a verve, a imaginação, o arrojo, a inquietude, e demais factores necessários à criação literária de qualidade que acontece quando se reúnem todos, ou alguns, destes ingredientes. E se é assim com a escrita, mais complexo será com a tradução, actividade infinitamente mais exigente.
Cumprimento-o pelo conteúdo excelente do seu blogue e pela atenção/protecção que dispensa à nossa língua. Tenho aprendido muito consigo. Obrigado.
Francisco

Venâncio disse...

É, de facto, razão para desconfiar. Parece daquelas traduções francesas de ficção portuguesa. Reescritas ao gosto francês. Que, como sabemos, não se vendem, e portanto não trazem mal ao mundo. Pena é os nossos ficcionistas. Falo dos bons, claro.