7.4.11

Verbo «aspirar»: regência

Snif, snif

      A propósito da expressão ouro sobre azul: «Dada a importância e a conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é de admirar que a bandeira da casa real de França tenha inspirado uma expressão conotada com o que de mais magnífico e sublime se pode aspirar ou ambicionar» (Mafalda Lopes da Costa, Lugares Comuns, Antena 1, 6.04.2011).
      No sentido de desejar, pretender, almejar, aspirar é transitivo indirecto, e preposicionado. Só no sentido de respirar, sorver é que não leva preposição. Vamos ao velho Morais. Vejamos... Pode ser o verbete «aspirante». Na mística, aspirante, lê-se, é «o que aspira a unir-se a Deus». (Não resisto a transcrever o que se lê neste dicionário acerca dos ortógrafos aspirantes: os que querem se escrevão com h, sinal de aspiração, as vogáes que entre nós não são aspiradas, e só por conservar a etimologia, como homem, humor, honra, &c.») «Toda a gente aspira a cargos importantes (dentro ou fora do país), a “montes” alentejanos, a casas na Lapa ou em Cascais, com vontade de ir a ministro» (Dicionário de Paixões, João de Melo. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1994, p. 209).
      Há quem — todos os que não aspiram a fazer-se entender cabalmente nem prezam a língua — se exprima dessa forma descuidada. Não devia ser esse o desiderato de uma jornalista.


[Post 4663]

5 comentários:

Anónimo disse...

Resta sabermos onde inserir a preposição «a» na frase citada (não podemos pô-la no final, como se faz em inglês). Arranjei várias alternativas, mas em todas tive de modificar significativamente a estrutura da frase e algumas palavras. Haverá uma maneira simples de o fazer?
RS

Anónimo disse...

1
Correcção ao alcance de qualquer:
• «Dada a importância e a conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é de admirar que a bandeira da casa real de França tenha inspirado uma expressão conotada com aquilo a que de mais magnífico e sublime se pode aspirar ou que se pode ambicionar.»

2
Melhorando:
• «Dada a importância e a conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é de admirar que a bandeira da casa real de França tenha inspirado uma expressão conotada com aquilo a que de mais magnífico e sublime se pode aspirar ou se pode ambicionar.»

3
Melhorando ainda mais:
• «Dada a importância e a conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é de admirar que a bandeira da casa real de França tenha inspirado uma expressão conotada com aquilo a que de mais magnífico e sublime se pode aspirar ou ambicionar.»
Porque a seguir a «ou» não tem necessariamente de se subentender «a que se pode», mas sim, e só, «que se pode ambicionar».

4
Aperfeiçoando:
• «Dada a importância e a conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é de admirar que a bandeira da casa real de França tenha inspirado uma expressão conotada com ao que de mais magnífico e sublime se pode aspirar ou ambicionar.»
Colocando a preposição «a» antes do pronome «o», giro bem português, como no caso «não sei do que te queixas» por «não sei o de que te queixas» ou «não sei aquilo de que te queixas», exemplos muitos e praticados por todos os falantes e explicados amplamente por Mário Barreto.

5
Outra boa hipótese:
• «Dada a importância e a conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é de admirar que a bandeira da casa real de França tenha inspirado uma expressão conotada com o mais magnífico e sublime a que se pode aspirar ou ambicionar.»

6
Ainda há mais hipóteses, todas correctas.
Agora como eu escreveria:

• Ou: «Perante a importância e conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é muito que a bandeira da casa real de França inspirasse uma expressão conotada com ao que de mais magnífico e sublime se pode aspirar ou ambicionar.»

• Ou: «Perante a importância e conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é muito que a bandeira da casa real de França inspirasse uma expressão conotada com o mais magnífico e sublime a que se pode aspirar ou ambicionar.»

• Ou: «Perante a importância e conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é muito que a bandeira da casa real de França inspirasse uma expressão conotada com aquilo a que de mais magnífico e sublime se pode aspirar ou ambicionar.»

• Ou: «Perante a importância e conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é muito que a bandeira da casa real de França inspirasse uma expressão conotada com aquilo de mais magnífico e sublime a que se pode aspirar ou ambicionar.»

Enfim, tudo acessível a uma criança da 4.ª classe, a antiga, claro. (Mas que coisa sucedeu a esta gente?! Pergunta retórica.)
— Montexto

Anónimo disse...

Ou, requintando na melhor de todas:

• «Perante a importância e conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é muito que a bandeira da casa real de França viesse a inspirar locução significativa do mais magnífico e sublime a que se pode aspirar.

• Ou, se quiserdes manter «ambicionar»: «Perante a importância e conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é muito que a bandeira da casa real de França viesse a inspirar locução significativa do mais magnífico e sublime a que se pode aspirar ou ambicionar.»

Isto para salientar o jogo e ressonância de «inspirar» e «aspirar», empregando ambos os infinitos para se sentir melhor.
— Montexto (esta língua não permite desculpas a quem a escreve mal).

Anónimo disse...

Pois a minha primeira tentativa foi a sua opção 4, Montexto. Só que incomodava-me ligeiramente o ouvido, e duvido que a si não lhe provocasse o mesmo efeito... Após várias tentativas falhadas de aliviar esse desconforto, cheguei a isto: ««Dada a importância e a conhecida grandiosidade e fausto da corte francesa, não é de admirar que a bandeira da casa real de França tenha inspirado uma expressão conotada com os mais magníficos e sublimes objectivos a que se pode aspirar ou ambicionar». Dei-me por satisfeito com esta; mas tive de inserir a palavra «objectivos».
RS

Anónimo disse...

Pois já está a ver que não precisa de inserir nada, e a sua 1.ª opção é até a mais idiomática. Mas também já vimos que o pessoalinho desconfia do idiomatismo ou idiotismo, com o que incorre noutro de muito outro e pior género.
— Mont.