16.10.08

«Mafia» outra vez


Voltam os mafiosos

O actor Robert De Niro e o realizador Martin Scorsese vão voltar a trabalhar juntos. «Desta vez», lê-se na edição de 11 do corrente da revista Actual/Expresso, «o actor vai vestir a pele de um assassino a soldo da Mafia com mais de 25 mortes no armário» («Estamos juntos», p. 6). Também o Expresso prefere, como eu e o Diário de Notícias, como já aqui vimos, esta forma. Álvaro Gomes não refere esta palavra, mas exemplifica com muitas outras o que chama indeterminação na acentuação, «sem que se tenha chegado», conclui, «a um consenso que não passe pela tolerância de ambas as formas»: estereótipo/estereotipo; Flórida/Florida; Oceânia/Oceania; protótipo/prototipo; túlipa/tulipa, etc. (O Acordo Ortográfico, Francisco Álvaro Gomes. Porto: Edições Flumen/Porto Editora, 2008, p. 51).

7 comentários:

Anónimo disse...

Será que podemos incluir nesta lista o caso de «Úrano», que quase toda a gente pronuncia e escreve «Urano»?
A Wikipédia, por exemplo, aceita ambas as formas.

Fernando Ferreira

Helder Guégués disse...

Sim, entre muitas outras.

Gil H. disse...

Eu confesso que continuo sem entender o motivo que levaria alguém a optar por «Mafia» em detrimento de «máfia». Li ambos os posts em que defendia essa prática e continuo sem compreender.

- «Mafia», como palavra italiana, tem acento tónico na primeira sílaba. Então:
a) escreve-se «mafia», mas isso força a pronúncia com acento tónico no «i», que não é a pronúncia original nem a estabelecida pelo uso.
b) escreve-se «Mafia», sem adaptar à língua, caso em que se teria de destacar com itálico ou aspas, para além de ser um uso despropositado de uma palavra estrangeira quando se pode optar pelo aportuguesamento.
c) escreve-se «máfia».

De todas estas opções, parece-me que b) é dificilmente defensável (o motivo é, parece-me, óbvio) e a) é ainda pior, já que, visto que a pronúncia (não só a original como a estabelecida) tem acento tónico no «a», não há motivo para se pronunciar de modo diferente.

Também o argumento da analogia é pouco convincente, pelos vários exemplos de palavras graves terminadas em -ia, como, digamos, «bazófia».

Em suma: qual é, afinal, o grande motivo pelo qual eu deveria pronunciar - e escrever - «mafia»?

Nuno Dempster disse...

Já agora respondo ao Gil. Com este acordo o Português escrito passa ser uma rebaldaria, exactamente pela mão daqueles que se arvoram em defensores oficiais da Língua. O que o Gil não saberá é que a variante brasileira do português, a que não me repugna chamar apenas brasileiro, inclui muitos italianismos e, mais do que isso, a sua grafia original em escrita corrente. Tem aqui uma explicação que muitos sabem e omitem cuidadosamente. O colonizador passou a colonizado. Castigo de Deus, diria eu em miúdo.

Anónimo disse...

Agradeço a nd pela resposta; contudo, devo discordar de alguns pontos da mesma. Primeiro, a escrita de máfia com ou sem acento é indiferente do Acordo, e acredito que a prática de não utilizar o acento não surgiu dos aportuguesamentos no Brasil. Por outro lado, como um defensor da maioria (sublinhe-se maioria) dos aspectos do Acordo Ortográfico, devo manifestar o meu repúdio pelo fascismo linguístico que impera no seu comentário. É um erro científico grave considerar a variante brasileira uma língua separada, e é ainda pior considerar negativa a influência brasileira no registo português. É também de notar que o Acordo não se trata, de forma alguma, de uma «cedência» ao Brasil, mesmo que, de um ponto de vista linguístico, esse conceito existisse sequer.

Nuno Dempster disse...

Fascismo linguístico? A variante do português do Brasil é já uma "língua" derivada, e afastar-se-á cada vez mais do português padrão. Aos cidadãos do Brasil, a uma boa parte deles, não repugnará minimamente chamar brasileiro à variante de português que falam. Foi neste sentido e não apoiado em qualquer xenofobismo que o afirmei. Também não compreendeu que não foi pela influência brasileira que escrevi inclui muitos italianismos e, mais do que isso, a sua grafia original em escrita corrente, mas exactamente pela imposição de um movimento contrário, que é a aceitação de normas que favoreçam os interesses das grandes editoras de ambos os lados. Só que se esquece de que importando e exportando ortografia, não sucede o mesmo à sintaxe - enquanto não se lembrarem de um acordo desses. A cedência não é aos países, é a quem manda económica e financeiramente neles, com países de fora tão importantes para nós como Angola e Moçambique. É fácil ver porquê.

Não sou linguista, a minha formação é tecnológica, interessa-me conhecer a minha Língua porque a quero com paixão sempre viva. Mas quero-a bela, com o seu corpo íntegro, sem as mazelas da ignorância ou de certa sapiência . Na segunda entrada do meu blogue em 17 deste mês saberá melhor o que penso.

Anónimo disse...

É claro que a definição de língua é pouco definida, mas as regras gerais que definem a sintaxe e a morfologia das normas do português são, na sua grande maioria, iguais. A fonologia é tão parecida que permite compreensão oral mútua, algo que nem se pode dizer de todas as linguagens com várias normas. Qual é, então, a justificação que leva a que se considerem duas línguas separadas? É certo que no futuro, o serão; é a evolução da língua! Contudo, o que vier virá. A mim interessa-me sobretudo o presente, e nesse são a mesma língua.

Penso compreender, agora, o seu argumento. Quererá porventura dizer que a importação de estrangeirismos sem adaptação é uma cedência às grandes potências e grandes economias? É possível. Nesse caso, porém, não vejo porque se meteu o Brasil ao barulho. :P